Wednesday, November 28, 2007

Lula, por que o ódio da imprensa?

No momento em que o Brasil entra pela primeira vez para o grupo de países com alto Índice de Desenvolvimento Humano, a imprensa destaca a sabotagem parlamentar da oposição oligárquica como uma expressão de resistência cívica.
Gilson Caroni Filho

Thursday, November 15, 2007

Lula: “o que não falta é democracia na Venezuela”

“Que eu saiba, na Venezuela já tiveram três referendos, quatro plebiscitos,três eleições, ou seja, o que não falta é discussão”
“Podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa, inventem uma coisa para criticar o Chávez. Agora, por falta de democracia na Venezuela, não é”, afirmou o presidente Lula, em relação à reforma constitucional na Venezuela.
Em entrevista no Itamaraty, quarta-feira, Lula destacou a participação popular no país vizinho. “Eu estou há cinco anos no poder, vou chegar a oito anos, participei de duas eleições, duas para presidente e duas para prefeito. Que eu saiba, na Venezuela já tiveram três referendos, já tiveram três eleições, já tiveram quatro plebiscitos, ou seja, o que não falta é discussão”, disse.
Segundo o presidente, “democracia, a gente submete aquilo que a gente acredita ao povo, o povo decide e a gente acata o resultado, porque senão não é democracia. As pessoas se queixam ‘ah, porque o Chávez quer um terceiro mandato’. Ora, por que ninguém se queixou quando Margaret Thatcher ficou tantos anos no poder?”
Ao ser questionado se não seriam situações distintas, Lula frisou: “Não tem nada de distinto, muda apenas o sistema, muda apenas o regime: de regime presidencialista para regime parlamentarista. Mas o que importa não é o regime. É o exercício do poder. Ninguém se queixa do Felipe González, que ficou tantos anos, ninguém se queixa do Mitterrand que ficou tantos anos, ninguém se queixa do Helmut Kohl, que ficou quase 16 anos”.
“O que nós precisamos é apenas respeitar a autonomia e a soberania de cada país. Se nós dermos menos palpite nas regras do jogo dos outros países e olharmos para o que nós estamos fazendo, todos nós sairemos ganhando. Se a gente achar que pode dar palpite em tudo, que só pode acontecer no mundo aquilo que a gente gosta, aquilo que a gente quer, nós seremos eternamente infelizes. Se nós deixarmos que os outros decidam o seu destino e cuidarmos de decidir o nosso, todos nós seremos muito mais felizes, justamente agora que o petróleo está aí”, sublinhou.
Ao ser perguntado se continua defendendo a entrada da Venezuela no Mercosul o presidente respondeu: “Continuo defendendo, continuo trabalhando”.
Sobre o episódio que envolveu o presidente Chávez e o rei Juan Carlos , Lula declarou: “nós somos um conjunto de países democráticos, que fazemos uma reunião democrática, onde todos têm o direito de falar, tema livre, aquilo que lhe interessa, e não há divergências apenas entre o rei Juan Carlos e o Chávez. Há muitas divergências entre outros chefes de Estado, e a divergência faz parte de um encontro democrático”, disse. “Houve uma fala do Chávez, que o Rei achou que era demais, que era uma crítica ao ex-primeiro-ministro da Espanha, que tinha apoiado o golpe venezuelano, num primeiro momento. Mas essas coisas acontecem. Qual é a diferença? A diferença é que o Rei estava na reunião. Quem falou “cala-te” foi o Rei, não foi um de nós”.
Hora do Povo

Wednesday, November 07, 2007

Venezuelanos vão às ruas pelo “Sim” à reforma constitucional


A reforma constitucional mais democrática da história do país será concluída no dia 2 com o Referendo. O presidente Chávez liderou a marcha de 1 milhão em Caracas pelo “Sim” às mudanças
O presidente Hugo Chávez liderou no domingo, dia 4, o lançamento da campanha a favor do “Sim” para o Referendo já marcado para o dia 2 de dezembro, quando a Reforma da Constituição aprovada na Assembléia Nacional, após ampla discussão entre os deputados e, simultaneamente, debatida em milhares de encontros e assembléias populares, será submetida à aprovação do povo venezuelano nas urnas. Chávez esteve à frente da grande manifestação pelas ruas de Caracas, com centenas de milhares de participantes – os organizadores avaliaram em cerca de 1 milhão – que, vestidos de vermelho, ocuparam quilômetros de avenidas e ruas transversais, e atravessaram a capital venezuelana de ponta a ponta.
A Reforma Constitucional proposta pelo líder venezuelano busca fortalecer a democracia, o poder popular, garantir a soberania, e ampliar o marco legal para alcançar o funcionamento da economia socialista.
SOLIDARIEDADE
“Este clamor do povo está concentrado nesses 69 artigos da reforma constitucional que vão aprofundar a verdadeira democracia, uma democracia de inclusão, de igualdade, de solidariedade, onde o povo com nome e sobrenome está representado, os operários, os taxistas, os professores, os artesãos, os pescadores, todo o povo está cada dia mais com o poder de decisão nas suas mãos. Esta é uma reforma para incluir inclusive aqueles que não estão com o processo revolucionário que vivemos em nosso país, porque eles também vão ser beneficiados. Se não forem criminosos, mal intencionados e traidores da Pátria, todos vão ser beneficiados”, assinalou a deputada Cilia Flores, presidente da Assembléia Nacional, AN, no inicio do ato final da marcha.
Sobre o Referendo do próximo dia 2, convocado pelo Conselho Nacional Eleitoral, o presidente assegurou que “a oposição tem todo o direito e garantia para que chame sua gente para votar pelo “Não”; para que faça suas propostas, mas de forma pacífica. Nós chamamos a votar pelo “Sim”, pois essa é a única opção que temos pela frente e é a opção na qual deveriam estar jogando, porque estas eleições definem muita coisa para nosso futuro”. “Quem de verdade ama a democracia não pode ter medo do voto. E nós damos aula de voto, ganhamos todas nos anos em que estamos no governo”, destacou, referindo-se a certo setor da oposição que “anda invocando um golpe e enchendo de violência as ruas”.
AMPLITUDE
Numa demonstração da amplitude do processo, depois da proposta inicial do presidente Chávez — que incluía mudanças somente em 33 artigos da Carta Magna —, e após dois meses de discussão, essa cifra se elevou a 69, em virtude da discussão e análise da Assembléia Nacional e do denominado parlamentarismo na rua, que não é mais que a participação ativa do próprio povo, com observações, novas propostas e críticas.
“Não tenho dúvidas que é o mais importante de todos os referendos que se realizaram, incluindo o revogatório de agosto de 2004 e o de dezembro de 1999 com o qual se aprovou a atual Constituição”, assinalou Chávez.
A grande manifestação convocada pelo Comando Zamora, órgão composto por lideranças políticas e sociais com a função de ampliar o debate sobre a Reforma Constitucional, e pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), se iniciou na zona leste da capital, e se estendeu pela longa Avenida Francisco de Miranda e por outras artérias até seu ponto final de encontro na central Avenida Simón Bolívar, onde a população alegre e entusiasmada aguardava seu líder sem desanimar a pesar das reiteradas pancadas de chuva que ocorreram.
VITÓRIA
“Aqui estamos começando outra grande batalha para obter outra grande vitória. O caminho da revolução é o caminho das mil batalhas. Temos feito coincidir o caminho das mil batalhas com o caminho das mil vitórias. É assim, não é moleza não, não podemos parar. Não estamos nos enfrentando só com alguns venezuelanos que renegaram sua pátria, estamos nos enfrentando com o Império, com suas mazelas e todos seus recursos, que não são poucos, que pretende impedir a revolução, as mudanças, o socialismo”, afirmou Chávez, após ser apresentado pelo ex-vice-presidente, José Vicente Rangel. Por isso, assegurou que não haverá descanso nesta campanha até seu fechamento em primeiro de dezembro, para no dia 2 votar Sim e Sim, em referência aos dois blocos em que se apresentará a Reforma.
Chávez chamou o povo a tomar as ruas para defender a Revolução e pediu às autoridades para não ser permissivas com os perturbadores da ordem. “A democracia não é bagunça, não é o desconhecimento da vontade da maioria tantas vezes provada nas urnas e nas ruas, como hoje, não é um grupinho de filhinhos de papai quebrar tudo o que encontram na frente porque é da sua vontade”, frisou e alertou uma vez mais à oposição que constantemente pretende desconhecer as leis e incita a um golpe militar. “Por nenhum caminho vão nos derrotar”, advertiu, e acrescentou: “É a mesma agenda golpista e é a mesma derrota que os espera”. “Agora é que vamos ver o diabo passar a ter muito trabalho”, acrescentou sob o aplauso dos manifestantes.
BANDEIRAS
Com bandeiras venezuelanas, cartazes de apoio à Reforma e ao socialismo, fogos de artifício e placas do PSUV, os manifestantes expressaram seu apoio ao governo bolivariano e condenaram os reiterados chamados da “esquálida oposição” para a desobediência civil, e a permanente guerra da mídia privada, nacional e internacional, contra o projeto que será submetido à consulta popular.
O presidente ressaltou ainda que é importante diminuir os índices de abstenção, ao lembrar que no referendo revogatório de agosto de 2004 ela foi de 30%, enquanto que no de dezembro de 1999, quando se aprovou a Constituição que hoje está em vigência, esteve por cima do 53%.
Chávez finalizou conclamando a população a “vencer a abstenção, para que não fique dúvida que a grande maioria dos venezuelanos aprovam a reforma constitucional”
SUSANA SANTOS

Diretor da Época, no blog “Faz Caber”:


“Para fazer a capa desta semana foi feita uma pesquisa de imagem muito específica. O presidente da Venezuela Hugo Chávez teria que estar com cara ameaçadora. Foi muito difícil, ele tem uma cara gorda e simpática, não dá medo em ninguém. A imagem que mais chegou próximo do objetivo foi a que ele está de boina vermelha olhando para o lado esquerdo. Para deixar a imagem ainda mais forte, o nosso ilustrador Nilson Cardoso fez um trabalho de manipulação na imagem original, até chegar a este resultado final.
O que acham? Façam seus comentários
Marcos Marques - diretor de arte”

Para “Veja”, vale tudo contra a democracia na Venezuela


Nessa linha, “Época” foi atrás e fraudou até foto

Há algum tempo, a “Veja”, sempre na vanguarda de tudo o que não presta, falsificou uma foto de João Pedro Stédile, líder do MST, manipulando-a por computador para apresentá-lo com feições sinistras e algo diabólicas. Pois a “Época”, da Globo, resolveu imitar a sua congênere. Foi exatamente o que fez com a imagem do presidente venezuelano Hugo Chávez, na capa da semana passada.

Verdade seja dita, nesse terreno – o da falta de escrúpulos, da canalhice, em suma, do fascismo editorial – a “Veja” continua sem competidores. Haja vista a matéria de capa desta semana, cujo assunto - de surpresa nós não vamos morrer - é o presidente Hugo Chávez.
POPULAÇÃO
Quem revelou a falsificação na capa de “Época” foi nada menos que o diretor de arte da revista, Marcos Marques (v. suas declarações em nossa primeira página). Não estava fazendo uma denúncia. Pelo contrário, estava expondo a competência do departamento que dirige. O incrível é que o diretor de arte e seus comandados parecem achar absolutamente normal esse procedimento. Parecem achar que a profissão é uma licença para fazer qualquer coisa que o patrão mandar, inclusive, ludibriar os leitores.
Chávez não falsificou nenhum retrato – e nenhuma história – da família Marinho. No entanto, os Marinho acham que podem chamar Chávez de ditador, falsificando a foto e os fatos...
Quanto à matéria, é de uma estupidez garrafal. Quem pode acreditar que Chávez está reaparelhando as forças armadas da Venezuela para atacar o Brasil, e não para se defender dos americanos? É preciso uma mente asinina para crer em tamanha estultice. Mesmo assim, não é qualquer asno que consegue achar que o Brasil, 9 vezes maior - e com uma população que é 7 vezes a do país vizinho – está ameaçado pela Venezuela.
Quanto à “Veja”, é outra coisa. Nesta semana, em 11 páginas de xingamentos, a prova de que Chávez é um ditador se resume a 7 artigos da Constituição – entre os 350 que a compõem. Os artigos são os seguintes:
1) O artigo 11, que dá poderes ao presidente para estabelecer regiões militares especais em qualquer parte do país.
“Veja” sabe perfeitamente que este é um dispositivo que existe em qualquer Constituição – inclusive na dos EUA e na do Brasil.
2) O artigo 16, que estabelece o Poder Popular baseado nas comunidades locais.
“Veja” quer passar a idéia de que trata-se de um poder paralelo ao do Estado, quando é apenas uma forma, que não se sobrepõe ao poder federal, estadual ou municipal, de complementar e democratizar o poder político em comunidades localizadas.
3) O artigo 115, que define que, por utilidade pública ou interesse social, poderão ser desapropriados determinados bens.
O Civita, americano que o é, não deve ter lido o artigo 5º da nossa Constituição, incisos XXIII e XXIV. O Estado brasileiro tem o mesmo poder e o nosso texto constitucional tem quase a mesma redação do venezuelano. Mas o Civita & matilha querem ter o monopólio da expropriação dos bens de outros...
4) O artigo 153, que propõe que a Venezuela envide esforços para construir na América um projeto supranacional.
Desde que o presidente Sarney fundou o Mercosul, o Brasil está envidando esforços exatamente no mesmo sentido, o que foi retomado pelo presidente Lula, inclusive com a CASA (Comunidade Sul-americana de Nações). Mas o Civita prefere a Alca, ou seja, em vez de um projeto supranacional, um de submissão nacional.
5) O artigo 230, que acaba com as restrições a que o povo possa reeleger o presidente.
Até Eisenhower, apesar de republicano, era a favor desse direito democrático. Disse ele que “o povo americano deve eleger quem ele quiser, quantas vezes quiser”. As restrições à reeleição consistem em limitações à democracia, cuja essência é a vontade do povo, não o impedimento à vontade do povo.
6) O artigo 318, que estabelece que a política monetária deverá ser estabelecida em conjunto pelo Executivo e o Banco Central.
O presidente Chávez é um homem moderado. O Brasil é mais radical: constitucionalmente, é o Executivo que estabelece a política monetária. O BC é um mero aplicador. Até o Meirelles sabe disso, pois vive citando o conteúdo desse dispositivo.
7) O artigo 337, que estabelece que o presidente poderá decretar estados de exceção no país.
Pois é, aqui também (artigo 21 da nossa Constituição).
Muito interessante, também, são os conceitos emitidos sobre democracia, pela “Veja”. Por exemplo: “Hugo Chávez foi escolhido em eleições democráticas em 1998. O partido nazista teve um terço dos votos em 1933. Á frente de sua milícia, Mussolini impôs sua nomeação como primeiro-ministro. Para todos eles, isso foi a etapa inicial da ditadura”.
Logo, a democracia é a etapa inicial da ditadura e não há outro jeito de evitar as ditaduras, senão acabando com a democracia. Não é brincadeira, leitor. O problema de Chávez não é que ele seja um ditador, o problema é que ele é um democrata, logo, segundo a “Veja”, é inevitável que ele seja um ditador. Por isso, ela coloca no mesmo saco as eleições democráticas da Venezuela e as eleições de 1933 na Alemanha, realizadas depois da proibição do Partido Social-Democrata e do Partido Comunista e da prisão em massa dos dirigentes e militantes de ambos os partidos. Da mesma forma, a “marcha sobre Roma”, de Mussolini, cujo objetivo era passar por cima das instituições - inclusive, e sobretudo, das eleições – virou exemplo de democracia. Mas, realmente, essa é a democracia do Civita, isto é, o fascismo.
DIAS
O resto é um besteirol de mesmo teor:
a) Chávez “arrancou do parlamento a autorização para governar sem o parlamento”. Parece até que as medidas provisórias e as ordens executivas dos EUA são alguma novidade.
b) A “milícia” da Constituição da Venezuela não são de Chávez; são a reserva do exército, isto é, todos os reservistas, organizados e comandados pelo exército.
c) Chávez não fez expurgo algum do Judiciário. Apenas, como qualquer presidente, inclusive o nosso, cumpre a ele nomear juízes de determinadas instâncias.
d) O que “Veja” chama de “lavagem cerebral” da juventude é que a educação deixou de ser privilégio dos brancos e ricos, e o ensino passou a ter algo a ver com a realidade do país.
Por último, não há perseguição aos opositores, que continuam proprietários da maioria dos órgãos de comunicação do país. A oposição é que tentou dar um golpe, rasgar a constituição, fechar o Congresso e o Judiciário, no que foi efusivamente saudada pela “Veja”. Mas a esbórnia durou apenas dois dias.
C. L.
Reprodução de HORA DO POVO

Tuesday, August 14, 2007

A grande imprensa está sob ataque” – assim começa o artigo de Ali Kamel, publicado há alguns dias em “O Globo”.

Kamel e o teste das mentiras

““Grande imprensa” é como Kamel, ex-editor assistente da “Veja” e atualmente diretor de jornalismo da Rede Globo, chama a mídia golpista. Parafraseando um dito célebre, essa imprensa só lhe parece “grande” porque Kamel vive em permanente genuflexão. No entanto, mesmo nessa posição incômoda, ele esforça-se por dar cambalhotas: tudo é invertido - naturalmente, o país é que esteve sob ataque dessa mídia. Por isso, ela levou a pior. É dessa última parte do negócio que Kamel está se queixando.

Porém, não é a imprensa, grande ou pequena, que Kamel quer defender. Ele está defendendo apenas a si próprio, ao seu lauto salário - e à sua incompetência, que levou a “Globo” a uma situação inédita de acelerado descrédito. Kamel é, sem dúvida, o mais inepto diretor de jornalismo que a “Globo” já teve.

Inclusive, e sobretudo, do ponto de vista do ilusionismo e da prestidigitação que são chamados de jornalismo pela “Globo”. Kamel é incapaz de disfarçar os truques que está tentando fazer. Assim, o “jornalismo” torna-se inútil, e, pior que isso, um risco para a própria “Globo”, além de um estrupício para os anunciantes, que são associados, sem querer, à desonestidade flagrante do veículo onde anunciam.
Voltemos ao seu artigo. Diz ele: “na cobertura da tragédia da TAM, a grande imprensa se portou como devia. Não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim”.

Resumindo: a mídia não erra. Não mente. Não falseia nem falsifica. Ela apenas “testa hipóteses”. Não tem culpa se a hipótese é falsa. Para que ela noticiasse apenas os fatos, seria necessário que ela fosse “pitonisa” ou “adivinha” (o que, aliás, é a mesma coisa).

Kamel não explica porque o “testar hipóteses” que preconiza como o supra-sumo da atividade jornalística é sempre contra o mesmo lado e a favor do mesmo outro lado.

CALÚNIAS

Mas é interessante essa nova teoria jornalística. “Testando hipóteses”? Sim, leitor, foi isso o que o sujeito escreveu. Ao invés de noticiar os fatos, a imprensa tem que “testar hipóteses”. Será possível forma mais desastrada de confessar a mentira, ainda por cima defendendo que é muito justo mentir? Só se ele escrevesse algo como: “desde o primeiro instante a mídia golpista foi, honestamente, mentindo, montando um quebra-cabeça que está longe do fim”.

Mas, dessa honestidade o sr. Ali Kamel realmente não é capaz. Nem que um raio o atingisse no caminho para a Barra da Tijuca (lá é a central de novelas e não de jornalismo? Perdão, leitores, pela compreensível confusão).

Continuemos: jornalismo que, em vez de noticiar os fatos, fica “testando hipóteses” é mentira, calúnia, e não jornalismo. Pois é exatamente esse o “jornalismo” que Kamel defende. Não por acaso, seu primeiro cargo de importância foi na “Veja”, que não faz outra coisa: fica “testando hipóteses” que interessam aos seus donos. Kamel levou essa tecnologia para a “Globo” – que, desde que ele deu com os costados lá, não faz outra coisa senão seguir a “Veja” com alguns dias de atraso.
Porém, vejamos algumas hipóteses que ele testou recentemente:

1) Às vésperas do primeiro turno das eleições passadas, Kamel “testou a hipótese” de que não existia um avião da Gol, com 154 pessoas a bordo, que estava desaparecido. Todos os telejornais daquele dia divulgaram o desaparecimento, menos um: o “Jornal Nacional”. Kamel “testou essa hipótese” porque achou que a divulgação do desaparecimento do avião ofuscaria o “teste” de outra “hipótese”: a de atribuir, dois dias antes das eleições e com o programa eleitoral gratuito encerrado, ao presidente Lula a compra de um dossiê, com a exibição escandalosa das imagens do dinheiro com que alguns aloprados tentaram adquiri-lo – imagens, de resto, inteiramente ilegais. Tudo isso para “testar” outra “hipótese”: a de que o presidente Lula não fosse o eleito. As três “hipóteses” eram falsas, mas Kamel, segundo seu parecer, não errou. Estava apenas “testando hipóteses”. Afinal, o rapaz não é “pitonisa”.

2) Em seguida, Kamel “testou a hipótese” de que a queda do avião da Gol não havia sido provocada pelos dois irresponsáveis pilotos norte-americanos do Legacy, como era evidente, mas pelo controle de vôo da Aeronáutica. A hipótese também era falsa. Mas Kamel também não errou. O problema é que ele não “adivinha”. Por isso, estava “testando a hipótese” da realidade ser falsa e do falso ser realidade.

3) Mas Kamel não desanimou: arrumou uma nova hipótese para testar: a de que o irmão mais velho do presidente da República, Vavá, um homem idoso, pobre e doente, era um terrível gênio do tráfico de influência. Nada havia que indicasse qualquer influência de Vavá no governo ou na máquina administrativa, nenhum suposto pedido seu havia sido atendido – e, aliás, nem feito. Seria o primeiro cidadão a traficar influência sem ter influência. Mas isso são questões de somenos importância. Importante era “testar a hipótese” – que também era falsa, mas o importante é testar. A realidade, que se dane.

4) Convicto, Kamel continuou seus experimentos, sempre “testando hipóteses”: diante de uma vaia claramente armada pelo ilustre filósofo do factóide, César Maia, Kamel insistiu que eram “vaias espontâneas” ao presidente. Ele realmente estava bem informado: segundo vários relatos, Kamel participou de uma reunião onde a vaia espontânea foi discutida – e armada. Portanto, a vaia só poderia ser espontânea, ora essa. O problema é que todo mundo viu que não foi. Mas o importante é que a hipótese foi testada, isto é, a vaia apareceu no “Jornal Nacional”.

5) Por último, nesse resumo das atividades científicas de Kamel: menos de uma hora após a queda do avião da TAM, a “Globo” já tinha lançado a hipótese de que o problema era a pista que o governo reformara, que a falta de “grooving” causara o acidente, e que a culpa era do presidente Lula. Não se sabia nada sobre as condições do pouso, a caixa-preta não havia sido encontrada, não havia nem mesmo palpite de algum técnico, mas Kamel, dinâmico como sempre, já estava “testando” a sua hipótese: a culpa é do Lula. O teste deu errado. Ou, melhor, deu certo, porque, como se sabe, a mídia não erra. A “hipótese” é que era falsa.

FABRICAÇÃO

Referindo-se a estudos sobre a mídia que apontam a cavalar falta de isenção contra Lula nos meses anteriores às eleições, diz ele: “tais estudos se esquecem apenas de contar que todo o noticiário sobre o mensalão e outros escândalos foi considerado prova de desequilíbrio contra Lula. Ora, se é assim, qual seria a alternativa para que o estudo apontasse equilíbrio? Não noticiar os escândalos? Mas isso sim seria perder o equilíbrio e a isenção”.

Não é uma gracinha? Os caras fabricam um escândalo, não conseguem provar nada, passam por cima de todas as evidências e provas, tentam dar um golpe, difamam, insultam e caluniam, e depois acham uma injustiça que se aponte que essa porcaria toda era mera tentativa golpista. Segundo Kamel, se não divulgasse o que ele mesmo fabricou, “isso sim seria perder o equilíbrio e a isenção”. Ou seja, as hipóteses que Kamel testa são sempre contra Lula porque Lula é sempre culpado, não importa o que faça – ou deixe de fazer.

CARLOS LOPES

Friday, July 20, 2007

Globo” manipula a tragédia em SP para insuflar “crise aérea” e jogar culpa em Lula

RCTV dos Marinho dá novo golpe na praça

Na própria noite da tragédia, a Globo já sabia de tudo. Não precisou de investigações, de pareceres técnicos, nem de ouvir a caixa preta ou ver os vídeos do aeroporto. A culpa era da pista, logo do governo e do presidente. Nenhum respeito pela dor humana, pelos pais, mães, esposas, irmãos e amigos que sofriam uma perda que parecia inacreditável. Nenhum respeito pelos que morreram. Nenhum pela verdade. Somente a tentativa de extrair a fórceps das famílias em lágrimas, e de profissionais e especialistas, declarações contra o governo. Na quarta, os vídeos deixaram claro que o desastre nada tinha a ver com a reforma da pista. Porém, há meses, qualquer coisa que acontece no ar é atribuída a uma “crise aérea”, crise que é, na maior parte, fabricada pelo açula-mento da mídia golpista, principalmente da Globo.


Jornal Hora do Povo

Monday, July 09, 2007

As conspirações da CIA e a mídia

“A advogada estadunidense Eva Golinger denunciou recentemente que a Casa Branca financia veículos e jornalistas venezuelanos”, afirma o jornalista Altamiro no presente artigo


*ALTAMIRO BORGES
“A CIA tem o direito legítimo de se infiltrar na imprensa estrangeira. Ela tem a missão de influir, através dos meios de comunicação, no desenlace dos fatos políticos em outros países” - William Colby, ex-diretor-geral da CIA


A sinistra CIA, a agência de espionagem e sabotagem dos EUA, acaba de divulgar vários documentos até então classificados como ultra-secretos. Eles compõem os arquivos sugestivamente chamados de “jóias da família”, apelido que designa algumas operações ilegais deste organismo que causam constrangimento ao governo ianque. São 11 mil páginas que revelam as ações terroristas do imperialismo em várias partes do planeta entre os anos 50 e 70. Os documentos comprovam que esta central de “inteligência” sempre teve um papel ativo na América Latina. A desclassificação periódica destes relatórios é uma exigência legal e não significa que a CIA tenha abandonado os seus métodos espúrios de interferência em nações soberanas.
No caso do Brasil, tratado na época como “maior alvo do comunismo” na região, a CIA ajudou a orquestrar o golpe militar de 1964. Um dos documentos afirma que o presidente João Goulart é “um oportunista que ascendeu ao governo com o apoio da esquerda”, taxa Leonel Brizola de “líder demagogo anti-americano” e acusa o governador Miguel Arraes de ser “um pró-comunista”. O texto tenta criar um clima de pânico na burguesia ao falar da “crescente influência” do Partido Comunista. Outro documento, intitulado “A igreja engajada e a mudança na América Latina”, critica seu setor progressista e ataca dom Hélder Câmara, cujo “forte é fazer publicidade e exigir reformas, sem oferecer soluções práticas aos problemas que ele cria”.
MÁFIA E ASSASSINATO DE FIDEL CASTRO
Na época, no auge da chamada “guerra fria”, a maior preocupação dos EUA e de sua agência era com o aumento da influência da revolução cubana. Os documentos confirmam que a CIA se aliou à máfia para tentar envenenar o líder Fidel Castro. Um deles dá detalhes da contratação do ex-agente Robert Maheu para realizar “uma ação do tipo de gângsteres”, que envolveu vários chefes mafiosos, como Salvatore “Momo” Giancana, o sucessor de Al Capone. A CIA disponibilizou US$ 150 mil e forneceu seis pílulas “de alto poder letal” para assassinar o dirigente cubano. Allen Dulles, o chefão da agência, coordenou a operação terrorista pessoalmente, mas ela foi desativada devido a um grotesco incidente passi-onal de Giancana.
Há também relatos sobre os planos da CIA para desestabilizar o governo chileno e assassinar o presidente Salvador Allende, inclusive com o uso de “empresas de fachada” para transportar armas. Outros relatórios descrevem várias operações ilegais de espionagem e sabotagem no continente, visando derrubar governos nacionalistas e destruir movimentos contrários ao domínio imperial. “Os EUA não podiam permitir uma outra Cuba no continente. Foi por isso que Kennedy, cuja diretriz da política para a América Latina era apoiar governos reformistas, apoiou ditadores”, explica Mary Junque-ira, professora de história da USP.
TARJAS PRETAS E GRAVES OMISSÕES
Os documentos agora desclassificados revelam apenas uma pequena parte dos crimes orquestrados por esta agência. Muitos textos ainda aparecem com longas tarjas pretas; nomes e detalhes das operações ilegais são omitidos. Não há menção, por exemplo, ao famoso “manual de torturas” da CIA, com seu “método médico, químico ou elétrico”, que serviu de orientação para vários ditadores no mundo. O assassinato de mais de um milhão de patriotas no golpe de 1965 na Indonésia também é excluído, assim como a brutal intervenção que derrubou o primeiro-ministro nacionalista do Irã, Moha-mmad Mos-sadegh, em 1953. Como afirma o jornal Hora do Povo, “a lista seletiva de crimes da CIA é uma operação de acoberta-mento”; visa limpar a imagem desta agência terrorista e de seus agentes e serviçais que continuam na ativa, inclusive na América Latina.
“O que estaria levando a famiglia Bush a divulgar estes documentos? Seria, como disse o general Michael Hayden, ‘porque os documentos verdadeiramente nos permitem vislumbrar uma era muito diferente e uma agência muito diferente’ e que a CIA agora tem ‘um lugar muito mais forte no nosso sistema democrático dentro do poderoso referencial legal’? Ele estaria se referindo a Abu Ghraib e Guantâ-namo? Ou às prisões secretas no mundo inteiro, seqüestros e vôos de tortura? Ao ‘Programa Talon’, dirigido contra organizações anti-guerra? Ou ao grampo da internet, do correio, do telefone e até dos cartões de consulta às bibliotecas dentro dos EUA? Às ‘novas técnicas’ de preparação para a tortura, ministradas pelo general Miller? Aos atentados e esquadrões da morte da CIA no Iraque?”, questiona, com justa ironia, o jornal Hora do Povo.
RELAÇÕES ÍNTIMAS COM A MÍDIA
Entre as graves omissões chama a atenção o fato destes documentos não se referirem às guerras ideológicas orquestradas pela CIA através do uso enrustido dos meios privados de comunicação. Como a mídia está na berlinda na atualidade, em especial na América Latina, é compreensível que o governo Bush a mantenha sob forte proteção. Neste sentido, os documentos desclassificados agora ficam muito aquém dos relatórios produzidos em 1976 por uma comissão de investigação do Congresso dos EUA, presidida pelo senador Frank Church. No caso do sangrento golpe militar do Chile, a comissão constatou que o jornal El Mercurio recebeu milhões de dólares para desestabilizar e derrubar o governo constitucional de Salvador Allende.
“A intromissão da CIA neste periódico chegou ao extremo de infiltrar seus agentes até na diagrama-ção. O informe Church denunciou que este organismo de espionagem contratou jornalistas, editou publicações de circulação nacional e elaborou matérias para diários, semanários e radiodifusoras, além de exportar estes ‘conteúdos’ para outros veículos latino-americanos e europeus”, lembra o escritor chileno Hernán Uribe.
Já no Brasil, há suspeitas de que a CIA financiou vários jornais e jornalistas na “cruzada contra o comunismo” durante o governo de João Goulart e que, inclusive, esteve por detrás do nebuloso acordo entre a empresa estadunidense Time-Life e a recém-criada TV Globo, na véspera do golpe militar de 1964.
ESPIÕES E SEÇÕES ESPECIAIS
Se estas barbaridades ocorreram no passado, é evidente que elas não foram descartadas no presente – ainda mais quando o ocupante da Casa Branca é o terrorista e torturador confesso, George W. Bush, e a América Latina vive um processo inédito de ebulição, com a vitória de vários governos progressistas. O jogo sujo da CIA, que só poderá ser conhecido oficialmente com as novas desclassificações daqui a décadas, prossegue. Os EUA temem as mudanças no tabuleiro político na região, não confiam em seus novos governantes – nem mesmo nos mais pragmáticos e conciliadores –, não toleram o avanço dos movimentos sociais e estão bem cientes dos riscos do atual processo de integração latino-americana. A CIA continua na ativa.
Numa recente passeata da direita venezuelana contra o fim da concessão da RCTV, algumas fotos flagraram a presença do agente da CIA Bowen Rosten, de camiseta azul e óculos escuros, na sua linha de frente. Há até um vídeo no Youtube com a cena grotesca. O ex-vice-presidente da Venezuela, José Vicente Rangel, no seu programa televisivo La Hojilla, comentou: “Um dos chefes da CIA na região é mister Bowen Rosten. Estadunidense, ele fala inglês, espanhol, português e francês. Está destacado para atuar na Colômbia, opera na Nicarágua, Argentina, Bolívia, Equador e Brasil e dirige a Operação Orión [de espionagem] em nosso país... O que o governo Bush tem a dizer da ingerência na política interna deste alto funcionário da CIA?”.
No final do ano passado, o presidente-terrorista Bush inclusive nomeou um diretor especial de inteligência para Cuba e Venezuela. Como denunciou o jornal cubano Juventude Rebelde, com a criação deste novo departamento “os EUA tentarão por todos os meios aumentar a presença de seus espiões nos dois países”. O agente Jack Patrick Maher, com 32 anos de experiência nos serviços de espionagem, informou ao congresso dos EUA que a sua missão é “assegurar a implementação de estratégicas”, com vistas à “transição” após a morte de Fidel Castro e às novas eleições na Venezuela. A criação desta seção especial da CIA coloca os dois países no mesmo nível da Coréia do Norte e Irã, nações incluídas no funesto “eixo do mal” de Bush.
JORNALISTAS PAGOS POR WASHINGTON
A mesma ingerência ilegal e criminosa também prossegue na mídia da região. A advogada estadu-nidense Eva Golinger denunciou recentemente que a Casa Branca financia veículos e jornalistas venezuelanos. O plano da Divisão de Assuntos Educativos e Culturais visa influir na linha editorial destes órgãos. A grave denúncia se baseou em documentação oficial do governo ianque. “Lamentavelmente, existem jornalistas na Venezuela manipulados pelo Departamento de Estado dos EUA”, garante a renomada advogada. A VTV, o canal estatal de Caracas, inclusive divulgou os nomes dos “repórteres” que recebem dólares de Washington: Aymara Lorenzo, Pedro Flores, Ana Villalba, Maria Flores, Miguel Angel e Roger Santodomingo.
O último deles, Roger Santodomingo, foi acusado, em maio passado, pela Justiça da Venezuela de “instigar o magnicídio [assassinato de autoridades] e receber financiamento dos EUA para desestabilizar o governo”. O jornalista divulgou na televisão falsa pesquisa em que 30% da população opinava que “matar Chávez é a única solução”. Com a decisão soberana do governo de não renovar a concessão da emissora RCTV, que participou ativamente do golpe frustrado de abril de 2002, a ação destes e outros “jornalistas” teleguiados pela CIA se tornou ainda mais agressiva, convocando protestos e atacando o presidente.
LARRY ROHTER AGENTE DA CIA?
Mesmo no Brasil, aonde inexiste o clima de radicalização política do país vizinho, há sérias desconfianças sobre a atuação da mídia hegemônica e de alguns colunistas e âncoras da televisão. Quando da reportagem do correspondente ianque Larry Rohter, que acusou o presidente Lula de ser alcoólatra e foi ameaçado de expulsão do país, o portal Resistir publicou um artigo de Célia Ladeira com graves denúncias contra o dito cujo. No texto, a professora de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB) dá algumas informações reveladoras. “Conheci Larry Rohter há muitos anos e convivo com pessoas que o conhecem muito bem. Portanto, não estou dizendo muita coisa nova, mas dizendo coisas que poucas pessoas estão hoje sabendo”.
Entre outras acusações, ela afirma que “Larry não é só jornalista, mas um tipo de agente civil, bem pa-go, que faz coisas que CIA e FBI não podem fazer. Ele tem trabalhado em toda a América Latina, sempre com um cader-ninho de missões debaixo do braço”. Informa que são comuns as suas visitas ao Departamento de Estado dos EUA. “Média de uma visita a cada ano, sem contar os almoços com gente estranha dos serviços secretos”. Lembra ainda que o “jornalista” presta inúmeros serviços ao governo Bush, sempre desancando políticos e lideranças contrárias ao império, como numa reportagem em que ridicularizou a prêmio Nobel da Paz, Rigoberta Menchu, da Guatemala, e nos inúmeros artigos contrários ao presidente da Venezuela. Outra diversão dele é escrever textos pregando abertamente a internacio-nalização da Amazônia.
*Jornalista, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição)

Friday, June 15, 2007

“Bob Kennedy investigava a conspiração da CIA no assassinato de JFK”, revela Talbot



Em seu livro “Brothers”, o escritor norte-americano David Talbot relata investigações de Bob Kennedy sobre a participação da CIA junto com o “submundo de Miami de espiões, gangsteres e militantes cubanos” no assassinato de seu irmão. No artigo de Talbot, publicado no seu site salon.com, o autor destaca: “crescentes evidências comprovam que ele estava na trilha certa antes de também ser assassinado”

DAVID TALBOT

Um dos mais intrigantes mistérios sobre o assassinato de John F. Kennedy, o mais escuro dos labirintos americanos, é porque seu irmão Robert F. Kennedy aparentemente não fez nada para investigar o crime. Bobby Kennedy era, afinal, não apenas o secretário de Justiça dos Estados Unidos no momento do assassinato – ele era o parceiro mais devotado de seu irmão, o homem que recebeu as incumbências mais duras do governo, dos direitos civis ao crime organizado e Cuba, o mais quente ponto nevrálgico da Guerra Fria de então. Mas depois que os tiros no centro de Dallas em 22 de novembro de 1963 encerraram essa parceria única, Bobby Kennedy parecia perdido na perplexidade e luto, recusando-se a discutir o assassinato com a Comissão Warren e dizendo aos amigos que não tinha ânimo para uma investigação agressiva. “Que diferença isso faz?”, ele dizia. “Isso não o trará de volta”.
Mas Bobby Kennedy era um homem complexo, e seus anos em Washington o tinham ensinado a manter seu próprio escrutínio e a proceder de um modo subterrâneo. O que ele disse em público sobre Dallas não era a história completa. Privadamente, RFK – que tinha construído sua reputação nos anos 50 como um incansável investigador dos porões do poder americano – estava consumido pela necessidade de saber a verdadeira história sobre o assassinato de seu irmão. Este fervor o tomou na tarde de 22 de novembro, assim que o chefe do FBI J.Edgar Hoover, um implacável inimigo político, lhe telefonou para dizer – quase com prazer, pensou Bobby – que o presidente havia sido baleado. E a questão de quem matou seu irmão continuou a perseguir Kennedy até o dia que também ele foi abatido a tiros, em 5 de junho de 1968.
Por causa de seu pendor para operar em segredo, RFK não deixou um registro documentado de suas inquirições sobre o assassinato de seu irmão. Mas é possível retraçar sua trilha investigativa, começando na tarde de 22 de novembro, quando ele freneticamente fez telefonemas de Hickory Hill – sua mansão da era da guerra civil em McLean, Virginia – e convocou assessores e autoridades do governo para sua casa. Ligado pela claridade do choque e a eletricidade da adrenalina, Bobby Kennedy reconstruiu as linhas mestras do crime nesse dia – um crime, ele imediatamente concluiu, que ia muito além de Lee Harvey Oswald, o ex-marine de 24 anos preso pouco depois do assassinato. Robert Kennedy foi o primeiro teórico da conspiração de assassinato [de JFK] da América.
As fontes da CIA começaram a disseminar sua própria visão conspiratória do assassinato de Kennedy horas após o crime, enfocando a defecção de Oswald para a União Soviética e seu apoio público a Fidel Castro. Em Nova Orleans, uma organização de notícias anti-Castro divulgou uma gravação de Oswald defendendo o ditador barbudo. Em Miami, o Diretório dos Estudantes Cubanos – um grupo de exilados financiado secretamente por um programa da CIA de codinome Amspell – disse a repórteres sobre as conexões de Oswald com o Comitê por uma Relação Justa com Cuba, pró-Castro. Mas Robert Kennedy nunca acreditou que o assassinato fosse um complô comunista. Ao invés disso, ele olhou na direção oposta, focando suas suspeitas nas operações ocultas da CIA anti-Castro, um submundo obscuro que ele havia navegado como o ponta-de-lança de seu irmão quanto a Cuba. Ironicamente, as suspeitas eram compartilhadas pelo próprio Castro, a quem ele tinha buscado derrubar durante a presidência de Kennedy.
O que estava determinado é que o secretário de Justiça estaria no comando da guerra clandestina contra Castro – outra desgastante tarefa que JFK lhe deu, após a desastrosa performan-ce da agência de espionagem na Baía dos Porcos em abril de 1961. Mas conforme ele tentou estabelecer controle sobre as operações da CIA e juntar os turbulentos grupos de exilados cubanos numa frente progressista unificada, Bobby aprendeu que o mundo anti-Castro era um pântano de intrigas. Trabalhando a partir de uma ampla estação da CIA em Miami de nome em código de JM/WAVE, que era a segunda maior depois do QG em Langley na Virgínia, a agência havia recrutado um exército ilegal de militantes cubanos para lançar ataques contra a ilha e até mesmo contratou pistoleiros da Máfia para assassinar Castro – inclusive chefões como Johny Rosseli, Santo Trafficante e Sam Giancana, a quem, como chefe do Comitê do Senado sobre o sindicalismo amarelo no final dos anos 50, tinha investigado. Era um superaquecido ecossistema que estava unido não apenas por sua febril oposição ao regime de Castro, mas também pelo seu ódio pelos Kennedys, que eram vistos como traidores por falhar em usar o poderio militar total dos Estados Unidos contra o posto avançado comunista no Caribe.

O submundo de Miami

É nesse submundo de Miami de espiões, gângsteres e militantes cubanos que Robert Kennedy imediatamente lança suas suspeitas em 22 de novembro. Nos anos que se seguiram ao assassinato do próprio Robert Kennedy, um impressionante corpo de evidências se acumulou que indica porque Kennedy se sentiu compelido a olhar nessa direção. As evidências – testemunhos ao congresso, documentos governamentais desclassificados, mesmo confissões veladas – continuam a emergir até a data mais recente, embora largamente não noticiadas. A mais recente revelação veio de um espião legendário, E. Howard Hunt, antes de sua morte em janeiro. Hunt ofereceu o que pode ser o último testamento sobre o assassinato de JFK por alguém com conhecimento direto do crime. Em suas memórias póstumas publicadas recentemente, o espião americano Hunt especula que a CIA poderia ter estado envolvida no assassinato de Kennedy. E em anotações manuscritas e uma fita gravada que ele deixou, o espião foi mais longe, revelando ter sido convidado em 1963 para uma reunião em um esconderijo da CIA em Miami, em que um complô de assassinato foi discutido.
Bobby Kennedy sabia que ele e seu irmão tinham feito inimigos políticos além da conta. Mas nenhum era mais virulento do que o homem que trabalhou na operação da Baía dos Porcos e que acreditava que o presidente os havia apunhalado pelas costas, se recusando a salvar - e condenando a operação -, com o envio da Força Aérea dos EUA e dos Marines. Mais tarde, quando o presidente Kennedy encerrou a Crises dos Mísseis de Outubro de 1962 de Cuba sem invadir Cuba, esses homens viram não um estadista, mas outra crise de nervos. Na Miami cubana, eles falavam de la seconda derrota, a segunda derrota. Esses sentimentos anti-Kennedy, às vezes vociferados acaloradamente na cara de Bobby, ressoavam entre os parceiros da CIA na guerra secreta contra Castro – os chefões da Máfia que há muito reclamavam suas lucrativas franquias de jogo e prostituição em Havana, que tinham sido fechadas pela revolução, e profundamente prejudicados com a guerra sem quartel do Departamento de Justiça de Kennedy contra o crime organizado. Mas Bobby, o linha-dura que cobria o flanco direito de seu irmão na questão de Cuba, pensava que ele próprio tinha se tornado o principal pára-raios de toda essa eletrostática anti-Kennedy.
“Eu pensei que eles me pegariam, ao invés do presidente”, disse ele ao seu porta-voz do Departamento de Justiça, Edwin Guthman, conforme andavam de um lado para o outro no quintal de Hickory Hill na tarde de 22 de novembro. Guthman e outros em volta de Bobby nesse dia pensaram que “eles” poderiam vir em seguida atrás do Kennedy mais jovem. Ao que parece, também Bobby. Normalmente oposto a medidas rígidas de segurança – “os Kennedys não precisam de guarda-costas”, costumava dizer com a impetuosidade típica – ele permitiu que seus auxiliares chamassem os agentes federais, que rapidamente cercaram a casa.
Uma chocante irrupção
Entrementes, enquanto Lyndon Johnson – um homem com quem ele tinha notoriamente um relacionamento antagônico – voava para o leste de Dallas para assumir os poderes da presidência, Bobby Kennedy usava sua fugidia autoridade para desentocar a verdade. Após tomar conhecimento de que seu irmão tinha morrido no Hospital Parkland Memorial em Dallas, Kennedy telefonou para o QG da CIA, estrada abaixo em Langley, onde ele frequentemente começava seu dia, parando lá para trabalhar em questões ligadas a Cuba.
Pondo uma alta autoridade no telefone – cuja identidade ainda é desconhecida – Kennedy o confrontou numa voz vibrante de fúria e dor. “Seus esquadrões têm alguma coisa a ver com esse horror?”, explodiu Kennedy.
Naquele dia mais tarde, RFK convocou o próprio diretor da CIA, John McCone, para lhe perguntar a mesma questão. McCone, que tinha substituido o lendário Allen Dulles depois que o velho mestre da espionagem tinha sido forçado aandar na prancha por conta da Baía dos Porcos, jurou que sua agência não estava envolvida. Mas Kennedy sabia que McCone, um rico empresário republicano da Califórnia sem nenhuma experiência em espionagem, não tinha um firme domínio de todos os aspectos da atuação da agência. O verdadeiro controle sobre o serviço clandestino girava em torno do homem número 2, Richard Helms, o astuto burocrata cuja carreira de espionagem remontava às origens da agência no OSS na II Guerra Mundial. “Era claro que McCone estava fora do circuito – Dick Helms estava comandando a agência”, havia comentado recentemente o assessor de RFK, John Seigenthaler – outro repórter investigativo, como Guthman, a quem Bobby havia recrutado para sua equipe no Departamento de Justiça. “Qualquer coisa que McCone descobrisse era por acidente”.
Kennedy teve outra reveladora conversa por telefone na tarde de 22 de novembro. Falando com Enrique “Ruiz” Williams, um veterano da Baía dos Porcos que era o seu aliado mais confiável entre os líderes politicos exilados, Bobby chocou seu amigo ao lhe dizer diretamente, “foi um dos seus caras que fez isso”. O que Kennedy queria dizer? Por então Oswald tinha sido preso em Dallas. A CIA e seus grupos clientes anti-Castro estavam sempre tentando ligar o alegado assassino ao regime de Havana. Mas como os ásperos comentários de Kennedy para Williams deixam claro, o secretário de Justiça não ia cair nessa. Evidência recente sugere que Bobby Kennedy tinha ouvido o nome de Lee Harvey Oswald muito antes que explodiu no mundo inteiro pelos boletins de notícias, e ele ligou isso à guerra subterrânea contra Castro. Com Oswald preso em Dallas, Kennedy ao que parece compreendeu que a campanha clandestina contra Castro tinha se voltado, como um bumerangue, contra seu irmão.
A conexão de Chicago

Naquela tarde, Kennedy mirou a Máfia. Ele telefonou para Julius Draznin em Chicago, um especialista do Escritório Nacional de Relações Trabalhistas em corrupção em sindicatos, pedindo-lhe para procurar por uma possivel relação da máfia em Dallas. Mais importante, o secretário da Justiça acionou Walter Sheridan, seu principal investigador do Departamento de Justiça, localizando-o em Nashville, onde Sheridan estava esperando pelo julgamento do seu nêmesis de muito tempo, o líder dos caminhoneiros Jimmy Hoffa. Se Kennedy tinha qualquer dúvida sobre o envolvimento da Máfia na matança de seu irmão, ela rapidamente desapareceu quando, dois dias após JFK ter sido abatido a tiros, o proprietário de um grotesco clube noturno, Jack Ruby, abriu seu caminho entre os reporteres no porão da estação de polícia de Dallas e disparou sua bala fatal contra Lee Harvey Oswald. Sheridan rapidamente obteve evidências de que Ruby havia sido pago em Chicago por um colaborador próximo de Hoffa. Sheridan reportou que Ruby “tinha pego um monte de dinheiro com Allen M. Dorfman,” o conselheiro chefe de Hoffa no Fundo de Pensões e Empréstimos dos Caminhoneiros e enteado de Paul Dorfman, o chefão sindical que era o principal vínculo com a máfia de Chicago. Poucos dias mais tarde, Draznim, o principal homem de Kennedy em Chicago, conseguiu evidências adicionais sobre o histórico de Ruby como cobrador da máfia, providenciando um detalhado relatório das atividades de Ruby de extorsão dos sindicatos e sua propensão pela violência armada. Os registros telefônicos posteriores de Jack Ruby ligavam-no mais ainda ao caso Kennedy. A lista dos homens a quem Ruby telefonara por volta da hora do assassinato - disse RFK mais tarde ao assessor Frank Mankiewicz - era “quase uma cópia do pessoal que eu chamei para testemunhar perante do Comitê sobre o crime organizado”.

Mensagem a Moscou

Conforme os membros da família e amigos íntimos se reuniram na Casa Branca no fim de semana após o assassinato para o funeral do presidente, um sentimento envolvido num rouco lamento irlandês tomou conta da mansão executiva. Mas Bobby não participou na dolorosa tradição da família. Recurvado e sem dormir ao longo do fim de semana, ele meditou sozinho sobre o assassinato de seu irmão. De acordo com uma narração de Peter Lawford, o ator e cunhado de Kennedy que estava lá naquele fim de semana, Bobby disse aos membros da família que JFK tinha sido morto por um complô poderoso que cresceu em meio às operações secretas anti-Castro do governo. Não havia nada que eles pudessem fazer naquele ponto, Bobby acrescentou, já que eles estavam enfrentando um inimigo formidável e eles não mais controlavam o governo. A Justiça teria de esperar até que os Kennedys pudessem retomar a Casa Branca – isso se tornou o mantra de RFK nos anos depois de Dallas, sempre que seus companheiros urgiam que ele falasse sobre o misterioso crime.
Uma semana após o assassinato, Bobby e a viúva de seu irmão, Jacqueline Kennedy – que compartilhava as suspeitas dele sobre Dallas – enviaram uma surpreendente mensagem secreta a Moscou através de um emissário de confiança da família, de nome William Walton. O discreto e leal Walton “era exatamente a pessoa que você poderia escolher para uma missão como essa,” observou mais tarde seu amigo Gore Vidal. Walton,um correspondente de Guerra da revista Time que se reinventou como um gay boêmio de Georgetown, tinha crescido junto tanto de JFK quanto de Jackie nos dias tranquilos antes que se mudassem para a Casa Branca. Mais tarde, o primeiro casal deu-lhe um papel não-pago no governo, indicando-o presidente da Fine Arts Comission, mas isso era principalmente uma desculpa para fazer dele um convidado freqüente da Casa Branca e um confidente.
Após o assassinato de JFK, o irmão do presidente e sua viúva pediram a Walton para seguir em frente, como planejado, com uma viagem de intercâmbio cultural à Rússia, onde ele deveria encontrar artistas e ministros, e transmitir uma mensagem urgente ao Kremlin. Logo depois de chegar à fria Moscou, lutando contra uma gripe e assoando o nariz com um lenço vermelho, Walton se encontrou no ornado restaurante Sovietskaya com Georgi Bolshakov – um agitado e rechonchudo agente soviético com quem Bobby tinha estabelecido em Washington um canal confidencial de relacionamento. Walton deixou o russo atônito ao lhe dizer que os Kennedys acreditavam que Oswald era parte de uma conspiração. Eles não achavam que nem Moscou nem Havana estavam por trás do complô, Walton assegurou a Bolshakov – era uma grande conspiração doméstica. O irmão do presidente estava determinado a entrar na arena política e eventualmente concorrer à Casa Branca. Se RFK tivesse sucesso, Walton confidenciou, ele retomaria a missão de seu irmão por uma détente com os soviéticos.
A extraordinária comunicação secreta de Robert Kennedy com Moscou mostra quão emocionalmente alquebrado ele deve ter estado nos dias que se seguiram ao assassinato de seu irmão. A calamidade o transformou instantaneamente de um insider abrasivo e confiante – o segundo homem mais poderoso em Washington – para um outsider profundamente cauteloso e afligido pelo pesar, que tinha mais confiança no governo soviético do que no seu próprio. A missão de Walton ficou perdida para a história. Mas é mais uma reveladora narrativa que lança luz sobre a vida subterrânea de Bobby Kennedy entre o assassinato de seu irmão e seu próprio fim violento menos de cinco anos mais tarde.
Ao longo dos anos, Kennedy ofereceria um insípido e rotineiro endosso do Relatório Warren e sua teoria do atirador solitário. Mas privadamente ele repeliu o relatório como nada mais que um exercício de relações públicas voltado para tranquilizar o público. E por trás da cena, ele continuou a trabalhar assiduamente para desvendar o assassinato de seu irmão, em preparação para a reabertura do caso se ele chegasse a ganhar o poder para fazê-lo.
Bobby guardou evidências médicas da autópsia de seu irmão, incluindo o cérebro de JFK e amostras dos tecidos, que poderiam se provar importantes em uma investigação futura. Ele também considerou se apossar da limousine presidencial manchada de sangue e recheada de balas que tinha conduzido seu irmão em Dallas, antes que o Lincoln negro pudesse ser limpo de evidências e reparado. Ele recrutou seu investigador-chefe, Walt Sheridan, para sua busca secreta – o ex-agente do FBI e camarada católico irlandês que Bobby chamava de seu “anjo vingador”. Mesmo depois de deixar o Departamento de Justiça em 1964, quando foi eleito senador por Nova Iorque, Kennedy e Sheridan davam uma escapada ali volta e meia, para esmiuçar arquivos sobre o caso. E logo depois de sua eleição, Kennedy viajou para a Cidade do México, onde juntou informações sobre a misteriosa viagem de Oswald para lá em setembro de 1963.
Em 1967, Sheridan foi a Nova Orleans checar a investigação de Jim Garrison, para ver se o estravagante promotor realmente tinha desvendado o caso JFK. (Sheridan estava trabalhando com produtor de noticiário da NBC naquele tempo, mas ele retornou a RFK, dizendo-lhe que Garrison era uma fraude). E Kennedy pediu a seu secretário de imprensa, Frank Mankiewickz, para começar a colher informação sobre o assassinato para o dia em que eles pudessem reabrir a investigação. (Mankiewickz mais tarde disse a Bobby que sua pesquisa o levara a concluir que fora provavelmente um complô envolvendo a máfia, exilados cubanos e agentes renegados da CIA.) O próprio Kennedy achou doloroso discutir teorias conspiratórias com os ardentes pesquisadores que o buscavam. Mas ele se encontrou no seu gabinete de senador com pelo menos um – um editor de jornal de uma pequena cidade do Texas, de nome Penn Jones Jr., que acreditava que JFK tinha sido vítima de um complô da CIA-Pentágono. Bobby o escutou e depois mandou seu motorista levar Jones até o Cemitério de Arlington, onde este queria visitar o túmulo de seu irmão.
Bob na corda-bamba

Às vezes, esse esforço para saber a verdade viria à tona em sua fala por vezes acelerada, conforme Robert Kennedy lutava com a debilitante dor e o sentimento de culpa de que ele – o vigia constante de seu irmão – deveria tê-lo protegido. E, sempre cauteloso, Bobby continuou a desviar do tema sempre que era confrontado com ele pela imprensa. Mas conforme o tempo passou, tornou-se crescentemente dificil para Kennedy evitar a luta com o espectro da morte de seu irmão em público. No final de março de 1968, durante sua heróica e condenada disputa pela presidência, ao comparecer a uma tumultuada manifestação no lado de fora do campus de Northridge, Califórnia, quando alguns impetuosos estudantes começaram a gritar a questão que ele sempre temera “Queremos saber quem matou o presidente Kennedy!”, proclamou uma jovem, enquanto outros começaram a gritar: “abram os arquivos!”.
A resposta de Kennedy nesse dia foi uma caminhada na corda-bamba. Ele sabia que se ele revelasse plenamente o que pensava sobre o assassinato, a gritaria da mídia que se seguiria teria dominado sua campanha, ao invés de questões candentes como dar fim à Guerra do Vietnã e abolir as divisões raciais do país. Para um homem como Robert Kennedy, você não trata de algo tão terrível e obscuro como o assassinato do presidente em público – você investiga o crime do seu próprio modo.
Mas Kennedy respeitava os estudantes universitários e suas paixões – e ele tinha o hábito de se dirigir às audiências nos campus com surpreendente honestidade. Ele não quis simplesmente se desviar da pergunta nesse dia com seu comportamento padrão. Então, embora cumprindo a obrigação de endossar o Relatório Warren como sempre fazia, ele foi além. “Vocês querem me perguntar sobre os arquivos”, ele respondeu. “Eu estou certo, como lhes disse antes, que os arquivos serão abertos.” A multidão saudou e aplaudiu. “O que eu posso dizer”, continuou Kennedy, “e eu já respondi essa pergunta antes, é que não há ninguém mais interessado em todas essas questões de quem foi responsável pela, uhm, uhm, a morte do presidente Kennedy, que eu.” O secretário de imprensa de Kennedy, Frank Mankiewickz, há muito acostumado a ver Kennedy driblar a pergunta, ficou “atônito” com a resposta. “Foi como se ele de repente tivesse deixado escapar a verdade, ou um modo de encerrar qualquer questiona-mento posterior. Você sabe, ´Sim, eu reabrirei o caso. Agora vamos seguir em frente”.
Robert Kennedy não viveu o bastante para elucidar o assassinato de seu irmão. Mas quase 40 anos após seu próprio assassinato, um crescente corpo de evidências sugere que Kennedy estava na trilha certa antes que também ele fosse abatido. Apesar de suas contorções verbais em público, Bobby Kennedy sempre soube que a verdade sobre Dallas importava. Ainda importa.

Danny Glover : “Bush conseguiu unir contra ele conservadores e liberais”



Reproduzo abaixo entrevista do ator e diretor Danny Glover, feita pela jornalista cubana Rosa Miriam Elizalde, em Caracas
ROSA MIRIAM ELIZALDE*
Quase dois metros de estatura, a figura atlética e um vigor que nem remotamente se aproxima ao que esperamos encontrar em um homem que já completou os 60 anos. Ao escutá-lo falar, não duvidamos que estamos diante de um líder apaixonado pelos direitos civis nos Estados Unidos e um respeitado embaixador da boa vontade da UNICEF, que esteve em missões contra a pobreza no Egito, Haiti, Mali, Namíbia, Senegal e África do Sul, mas suas palavras não encaixam com o estereótipo de uma celebridade de Hollywood.
É difícil imaginar o policial de “Máquina Mortífera” e o marido violento de Cellie, a protagonista de “A Cor Púrpura”, encarnado no homem real que de pronto pede a palavra, humildemente, da platéia onde assiste às Jornadas Internacionais da TeleSul. Fala pouco e claro: “O tema do controle dos meios de comunicação e a participação democrática neles, não está na agenda de debate nos Estados Unidos. Meu governo sempre trata de aplacar qualquer tipo de resistência dentro e fora do meu país e essa postura tem um impacto direto nos meios de comunicação que promovem a guerra e a desinformação”.
Depois, o que queremos é conhecer melhor este ator e diretor de cinema norte-americano, que não dissimula sua simpatia pela Revolução bolivariana e cubana.
Com Danny Glover não existem formalidades, nem poses de estrela. Está como poderia estar qualquer um de nós, com jeans e um boné, só e meio perdido a um passo do Teatro Teresa Carreño, em Caracas, e simplesmente sorri e diz sim quando lhe peço esta entrevista.
Rosa - Porque Danny Glover é como é? Como foi educado?
Danny Glover - Sou herdeiro do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, que surgiu no país depois da Segunda Guerra Mundial. Nasci com o impulso da transformação social que significou esse movimento, similar a outros que emergiram naquela época, como a defesa da identidade social, da liberdade nacional e a resistência ao colonialismo. Sou filho dessa experiência.
Desde jovem tratava de entender as circunstâncias que me rodeavam: a democratização da sociedade, a luta por justiça para os trabalhadores, a chegada da televisão, o ambiente liberal de São Francisco, a história recente do movimento operário nessa cidade, que herdamos...
Minha vida está marcada pelo grande líder do sindicato dos estivadores, Harry Bridges, um trabalhador imigrante australiano que organizou em 1934 uma greve que durou 83 dias e paralisou São Francisco. Ele conquistou, entre outras coisas, a incorporação dos estivadores afro-americanos ao trabalho nas docas. Bridges era socialista. São Francisco tinha um dinamismo social que posteriormente penetrou no resto do país.
Tudo isso me influenciou desde jovem e esse era o ambiente nas escolas onde estudei. Primeiro, em uma escola pública de São Francisco, logo no City College e, depois, em São Francisco State College, onde me envolvi ativamente no movimento “Black Power” e nas lutas do movimento estudantil. Por isso Danny Glover é como é.
R - Você foi um dos líderes da greve estudantil mais longa da história dos Estados Unidos. Porque organizaram a greve? Conquistaram o que queriam?
D G - Certo. Fui um dos líderes do “Black Student Union”, em 1968, a organização que obrigou a Universidade Estadual de São Francisco a constituir uma faculdade para os Estudos Étnicos. A greve que organizamos foi tão forte, que no verão de 1969 me acusaram de dirigir uma suposta conspiração para levantar motins. Posteriormente me declararam culpado de coisas mais leves, mas me processaram penalmente.
Me marcou para sempre a orientação comunitária que formou parte da experiência que tivemos na Universidade Estadual de São Francisco. O Black Panther Party (Partido Panteras Negras) também me marcou, como o movimento de solidariedade internacional.
Era a época da Guerra do Vietnã, do Che no Congo e na Bolívia. Não estávamos à margem do que ocorria fora dos Estados Unidos e líamos tudo: Marx, Mao, Julius Nyrere, Francis Nkrumah. Além dos estudos, pertencíamos a um grupo de estudantes que sentíamos que tínhamos uma missão a cumprir na sociedade. Não tínhamos nos matriculado para estudar comércio. Nosso propósito era utilizar a luta universitária para transformar nossa comunidade. Éramos negros, latinos, e brancos, membros ou não dos Panteras Negras e do movimento “Brown Berets, dos chicanos. Juntos nos declaramos em greve para incorporar ao currículo da universidade o centro de estudos étnicos. Exigíamos o estudo de nossa verdadeira história, conhecer e resgatar as contribuições dos negros, dos latinos, e dos pobres dos Estados Unidos. Também nos declaramos em greve em solidariedade aos estudantes parisienses de 1968.
Tivemos êxito. Conquistamos, com o grande apoio comunitário, a criação do primeiro centro de estudos étnicos dos Estados Unidos.
FAMÍLIA
R - Que influência teve a sua família na formação da sua perspectiva política?
D G - Meu pai, James Glover, era de Kansas City. Minha mãe, Carrie Hunley, da Geórgia rural. O fim da Segunda Guerra Mundial os levou a São Francisco e formaram parte dessa geração muito politizada pelos sindicatos. Eram empregados do Correio Nacional e membros do sindicato dos trabalhadores dos correios. Descobri a Revolução Cubana quando me inteirei de que o sindicato de meus pais a apoiava. O presidente do sindicato em São Francisco, David Johson, usava uma boina como a de Fidel. Dizíamos “Little Fidel” (pequeno Fidel). Isso me mostrou muito sobre o que estava havendo em Cuba.
Eu tinha só 8 anos quando aconteceu o boicote dos ônibus de Montgomery, Alabama, o movimento iniciado por Rosa Parks, a mulher que se negou a aceitar a segregação racista no transporte coletivo. Vi pela primeira vez os negros na televisão que se transformavam em verdadeiros instrumentos de troca. Posso dizer que as experiências definitivas de minha vida foram minha infância em Haight Ashbury, São Francisco, e meus pais, o sindicato, a luta estudantil. Sobre esse mundo se construiu minha consciência social.
O ALGODÃO
R - Como fez sua família para enfrentar uma sociedade profundamente discriminatória?
D G - Não podemos separar a vida particular do povo norte-americano de sua história. Nem tampouco a história do povo. Há um fato importantíssimo que quase nunca se leva em conta: a máquina para recolher algodão foi inventada em 1944. Até então, todo o algodão era colhido a mão, só em 1965 que 100% do algodão passou a ser recolhido a máquina. Significou uma transformação enorme nas vidas das pessoas que colhiam o algodão a mão.
Minha avó teve um pressentimento da importância dessa transformação e incorporou a palavra “educação” como parte essencial de seu vocabulário. Seus filhos foram à escola, caminhando dez milhas todos os dias e vestidos com roupas feitas de fronhas de travesseiros, mas foram à escola.
Minha mãe sempre me dizia que a questão central de sua infância havia sido não estar obrigada a colher algodão em setembro, como todas a mulheres da família. Foi nossa verdadeira “Declaração de Emancipação de todos os escravos”. Já a havia feito Abraham Lincoln, em 1863, mas foi significativo para os negros estadunidenses quando apareceu a máquina do algodão. Foi o marco da vida de minha mãe, seu imperativo moral. De alguma maneira isso a levou a participar no Conselho Nacional de Mulheres Negras e no sindicato de trabalhadores do correio.
R - O que mudou para um menino negro de hoje em relação ao que foi sua infância?
D G - Hoje não existe o racismo deslavado de ontem. Pelo menos não é tão óbvio. A segregação que tanto desumaniza não é tão aberta. É inegável que tivemos algumas vitórias. No entanto, 70% das crianças negras ainda estudam em escolas segregadas, mesmo depois do caso de Brown of Education, de 1954, que levou a Corte Suprema a declarar inconstitucional a segregação nas escolas.
Quando eu era criança, as escolas públicas da Califórnia estavam incluídas entre as 5% melhores da nação. Agora estão entre as piores. Na minha infância havia mais unidade entre os negros e outras minorias marginalizadas dentro da comunidade. Agora não é tão assim.
HOMENAGEM AOS ESPÍRITOS
R - Falemos do filme que você dedicará a Toussaint-Louverture, com a colaboração da Venezuela, que tem gerado tanta polêmica.
D G - A película narrará a vida do líder que inspirou a revolução dos escravos em 1791, da qual surgiria posteriormente o Haiti. É uma co-produção internacional, que ajudará o cinema venezuelano. O que for arrecadado com os ingressos do filme será utilizado para construir certa capacidade de produção cinematográfica na Venezuela. Uma relação de trabalho que ajudará a gerar empregos e ajudará as comunidades.
R - É verdade que este filme é também uma homenagem a sua bisavó?
D G - Minha bisavó nasceu em plena escravidão. O filme, se é uma homenagem a alguém, é a ela e a todos os espíritos que resistiram à opressão ao longo da História.
R - Que relação pode existir entre o Danny Glover de “Máquina Mortífera” e o de Toussaint-Louverture?
D G - É o mesmo Danny Glover, que sempre trata de fazer filmes com certo valor social. Não invalido nenhum de meus filmes. Todos são parte desse processo. “Máquina Mortífera” é único e especial, particularmente a segunda parte, que aborda o tema do apartheid. Não é por acaso que o governo da África do Sul o tenha censurado.
R - Tem alguma esperança de que finalmente o governo do seu país se retire do Iraque? Como pensa que terminará essa história?
D G - Sinto muita dor pelos milhões de iraquianos, cujas vidas têm sido afetadas por esta guerra desnecessária. Também pelas mais de 3 mil famílias estadunidenses que perderam absurdamente um ente querido. Não creio que a intervenção militar de Washington no Iraque acabe logo. Honestamente, não percebo uma transformação na política exterior do meu país no futuro próximo.
R - Na Jornada Internacional da TeleSul você falou da manipulação midiática da administração Bush e citou como exemplo que não havia informação sobre a proposta de Cuba de enviar médicos para atender aos afetados pelo furacão Katrina. Porque ocorreu isso?
D G - O Katrina abriu um precedente muito perigoso nos Estados Unidos. Veja o plano que o governo realizou como resposta à tragédia. Nova Orleans era uma cidade construída pelos pobres e os negros do país, profundamente marginalizados pelo governo e a infra-estrutura econômica da cidade. O Katrina chegou a uma cidade já marginalizada. A resposta do governo foi aproveitar-se da desestabilização que ocorreu depois do Katrina, que é filha dos problemas sociais que já existiam desde antes, agravados logicamente depois do desastre. Que fez o governo? Decidiu filtrar quem regressa ou não a Nova Orleans, e iniciar uma mudança na população que garanta à direita estadunidense exercer o controle político, cultural e social de uma região sumamente conflituosa para eles. É terrível.
O absurdo rechaço aos 1500 médicos cubanos com experiência em assistência à populações em situação de catástrofe reflete a falta de verdadeiro interesse para atender às necessidades dos negros e dos pobres da cidade. Não querem salvá-los, mas despojá-los do que for possível, desaparecer com eles, como está ocorrendo em Nova Orleans. Isto é uma mostra do que está ocorrendo em todas as cidades do país.
R - Você apóia John Edwards para presidente. Que tipo de presidente seria ele?
D G - Não sei, francamente, mas ao menos ele fala sobre algumas coisas que têm impacto em nossas vidas, como por exemplo as diferenças sociais nos Estados Unidos. Me interessa tudo que pudermos construir dentro e fora do Partido Democrata.
R - Como você avalia o lugar do presidente Bush na história dos Estados Unidos?
D G - Aconteceu um milagre. Hoje, os conservadores têm a mesma opinião sobre Bush que os liberais . Se deram conta de que quem dá crédito ao presidente e menciona seu nome, não fala de coisas que verdadeiramente valem a pena.
* É autora dos livros “Chaves Nuestro” e “Los Disidentes” (os dois com o também jornalista Luis Báez) e diretora de redação do site Cubadebate

“Veja” defende a pureza ideológica do marxismo

Hoje, senhores leitores, começaremos por um teste. Pedimos que leiam o seguinte trecho: “Karl Marx foi um pensador profundo e complexo que tirou a filosofia das nuvens e a colocou no mundo real. (....) Reduzir Marx ao esquerdismo de botequim que se nota em alguns livros e apostilas é uma ofensa ao filósofo alemão e um desserviço à educação dos jovens brasileiros”. Quem acertar qual foi o comunista que escreveu isso, ganhará uma viagem turística ao Bronx, bucólico bairro de Nova Iorque onde a vida é um eterno dia de São Cosme e Damião - bala pra todo mundo, não precisa nem ir atrás.
Não conseguiu descobrir? Ainda bem, leitor. Você acabou de se livrar do Bronx e ainda ficamos sabendo que não é leitor da “Veja”. Como? Sim, minha senhora, o trecho é da “Veja”, esse bastião da pureza ideológica do marxismo, na qual ficamos sabendo que Marx foi um “rigoroso filósofo alemão”; que “criticar o capitalismo é saudável”; e que os “dogmas e simplificações” são características do “marxismo vulgar”.
CRÍTICA
Entre um e outro curso de formação marxista na CIA, o Bob Civita comoveu-se com o drama de uma “dona de casa” escandalizada com o que leu nas apostilas do colégio de sua filha. É verdade que levou 9 anos para isso, desde que a filha entrou nesse colégio. Por sinal, uma dona de casa que se intitula “marxista desiludida”, o que só significa que ela confundia suas ilusões com o marxismo. Pelo seu retrato, a “dona de casa” em questão corre o risco de temperar o feijão com Chanel Nº 5 ou preparar vinha-d’alho com Chateau Dufort-Vivens, safra 1885, vinho que custa uns 15 ou 20 mil reais a garrafa...
Indignado com a deturpação do marxismo, o Civita encomendou uma crítica ao perigoso revisionismo das apostilas feitas pelo grupo COC, de Ribeirão Preto, São Paulo. Há alguns meses, ele arranjou um historiador da Universidade do Texas para fazer considerações sobre o capitalismo da Grécia no ano V a.C. Agora, a autora da contribuição crítica ao revisionismo só pode ser uma discípula daquele imbecil. Também convocou o sr. Roberto Romano, com seu pedantismo asinino, para falar do “emburrecimento dos jovens”. Sem dúvida, ele só não é especialista no assunto porque é muito chato. Não há jovem que agüente...
Mas, se os trechos que “Veja” reproduz são representativos do material do COC, essas apostilas são muito boas. Portanto, pessoal do COC, parem com esse negócio de mudar as apostilas. Nada de puxar o saco da “Veja”, pois o que ela está querendo é que vocês mudem o que está certo, não o que está errado. É só ler algumas pérolas do marxismo ortodoxo de “Veja”:
1) “A escravidão no Brasil é justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado como animal, pois era ‘desprovido de alma’ (...). Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira?”. Comentário de “Veja”: a Igreja já era, então, contrária à escravidão. O papa Paulo III escreveu, em 1537: “Ninguém deve ser reduzido à escravidão”.
O comentário de “Veja” é de uma ignorância crassa nos fatos históricos mais elementares. A Igreja condenou oficialmente a escravização dos índios no século XVI. Mas somente em 1839 ela condenaria a escravidão dos negros, através de uma bula do papa Gregório XVI. Declarações de alguns papas (Pio II, Paulo III, Urbano VIII) contra a escravidão negra jamais mudaram, durante 4 séculos, a posição da Igreja, estabelecida nas bulas de Eugênio IV, Nicolau V, Calisto III, Sisto IV e Inocêncio VIII. Se no caso dos índios argumentava-se que eles só se converteriam ao catolicismo se não fossem escravos, no caso dos negros a argumentação é que a conversão somente seria possível se eles fossem escravos.
2) “A dissolução das comunidades neolíticas, como também da propriedade coletiva, deu lugar à propriedade privada e à formação das classes sociais, isto é, a propriedade privada deu origem às desigualdades sociais (...).” (Capítulo “A pré-história”, pág. 103 da apostila do COC). Comentário da “Veja”: o conceito de “classes sociais” não se aplica a uma sociedade organizada em clãs. As desigualdades subsistem desde que a humanidade vivia da caça, da pesca e da coleta.
O comentário de “Veja” é coisa de idiota, além do mais, pedante. A apostila não se refere a “uma sociedade organizada em clãs”, mas, exatamente, à dissolução dessa sociedade (“dissolução das comunidades neolíticas”), e à sociedade de classes que resultou dessa dissolução, após a substituição da propriedade coletiva pela propriedade privada dos meios de produção. É evidente que antes da existência de classes havia desigualdades. O homem e a mulher, por exemplo, já naquela época não tinham a mesma anatomia. Mas a apostila se refere a “desigualdades sociais”, ou seja, desigualdades de classe, que, naturalmente, só podiam existir depois do aparecimento das classes sociais. Que a empregada do Civita não entenda chongas de marxismo, vá lá. Mas seria bom que aprendesse a ler.
DESCONHECIDO
3) “O surgimento da propriedade privada dos meios de produção (...) provocou, na Grécia, a formação da sociedade de classes organizada sob a cidade-estado.” (Capítulo “O período arcaico”, pág. 128 da apostila do COC) Comentário de “Veja”: as classes na Grécia antiga eram determinadas pela ascendência dos cidadãos – e não por sua riqueza.
O filho do Rockefeller é tão burguês quanto o pai. O filho do Victor Civita, o Bob, é da mesma classe que o pai. Mas seria de um ridículo atroz dizer que no capitalismo as classes sociais são determinadas “pela ascendência”. É evidente que as classes são formadas por indivíduos e que estes indivíduos se reproduzem. As classes na Grécia eram determinadas pela propriedade (ou não) dos escravos, da terra e dos demais meios de produção. Puxar o saco do patrão, que herdou aquela fortuna toda “pela ascendência”, não faz parte do marxismo. E as classes também não são determinadas “por sua riqueza”, ainda que os proprietários dos meios de produção sejam mais ricos do que os não proprietários. É a classe a que se pertence que determina a riqueza (ou pobreza), e não a riqueza (ou pobreza) que determina a classe. Só um asno (ou uma asna) para trocar as bolas nessa questão. Além do que, é possível ser rico e ser um desclassificado: se as classes sociais fossem determinadas “por sua riqueza”, Al Capone seria um representante da burguesia norte-americana. No entanto, era apenas um marginal.
O que mais escandalizou a “dona de casa” e a “Veja” não foi um texto histórico nem marxista, mas um texto literário, “Como se conjuga um empresário”. O autor é Mino, descrito por “Veja” como um “desconhecido escritor cearense”. Pode ser desconhecido para as bestas que compõem a corte do Civita, que adoram colocar nas alturas qualquer mediocridade, contanto que seja americana. Mino foi colaborador do “Pasquim” e até fez umas vinhetas para a Globo. Trata-se de um talentoso pintor, chargista, cartunista, humorista e escritor da terra de José de Alencar e Clóvis Monteiro - avô do nosso editor-chefe. Não é a primeira vez que Mino é vítima da burrice. Deve ser o único escritor que perdeu o sobrenome devido à censura daquela ditadura da qual o pai do Bob era expoente. Os censores acharam que Mino Castelo Branco só podia ser gozação com o Castelo Branco que havia assumido o poder com o golpe de 64. Não houve jeito de convencê-los de que esse era mesmo o seu sobrenome. Nem com a carteira de identidade na mão...
CARLOS LOPES

Friday, June 08, 2007

Por que a Globo é golpista


No artigo abaixo, publicado originalmente pela Agência Carta Maior, o professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, Gilson Caroni Filho, alerta que a mesma Rede Globo que vaticina hipocritamente contra uma suposta “censura” do presidente Hugo Chávez contra a RCTV, ignora solenemente o papel da emissora quando o líder venezuelano foi deposto pelo golpe patrocinado pela CIA em abril de 2002.
GILSON CARONI Fº
Seria pueril, se não fosse ameaçador. Seria mais um inusitado registro do teatro do absurdo, com sua habitual ironia, se não se tratasse de texto jornalístico sobre uma emissora que teve papel central na história recente da Venezuela. Mas Déborah Thomé, interina da coluna “Panorama Econômico”, do Globo, foi de um didatismo exemplar na edição de terça-feira, 7/5.
Para ela, “Chávez acusa o canal de ter participado da tentativa de golpe em 2002 - acusação, aliás, verdadeira, mas que não justifica tal medida censora”. Ao que parece, uma emissora televisiva não só se autonomiza do poder concedente como a ele se sobrepõe. Esse é o pilar da democracia admitida pela família Marinho.
Melhor, impossível. Mais que um deslize de estilo, estamos diante da reiteração de política editorial. A jornalista mostra que aprendeu o receituário da corporação que lhe paga o salário. Um arrazoado onde os princípios democráticos (igualdade, diversidade e participação), por não serem compatíveis com organizações monopolísticas e a otimização de seus ganhos, devem ser relativizados, a ponto de um golpe de Estado ser um pecado menor.
A decisão do presidente Hugo Chávez de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RTVC) é respaldada por preceitos constitucionais e os procedimentos administrativos realizados, em momento algum, feriram os princípios básicos do Estado Democrático de Direito. Mas a doxa midiática é samba de uma nota só: a cada movimento, segundo articulistas e editores, o presidente venezuelano se afasta da democracia. Será mesmo? Não é o caso de questionarmos a narrativa dominante com fatos históricos recentes? E à luz dos cenários que se abrem, indagar: quem são, efetivamente, os golpistas da América Latina?
Nesse quadro cabe, também, perguntar aos altos cargos das Organizações Globo: o Brasil, no campo jornalístico, seria substancialmente distinto da Venezuela? Em um país onde a imprensa sempre endossa retrocessos políticos, o que esperar dos barões da mídia em caso de mudanças efetivas? Abririam mão do projeto autoritário de serem a únicas instâncias de intermediação entre Estado e sociedade? Aboliriam a semântica que define como populista quem não se submete aos ditames do mercado? Deixariam de condenar qualquer tentativa de comunicação direta com as massas? Ao fazê-lo, removeriam a confusão deliberada entre manifestação carismática e demagogia de algibeira?
Ora, não há inocentes: a mídia, tal como estruturada hoje, é incompatível com uma institucionalidade que não seja moldada aos seus interesses político-empresariais. A lógica, repetimos, que maximiza seus lucros não sobrevive sem déficit democrático. O espetáculo abomina a práxis. E a Globo tem horror à democracia.

Muitas similitudes

A manutenção do sistema de alianças que assegura a ordem vigente é a principal tarefa do sistema comunicacional. Em caso de crise aguda, a “nossa Venezuela” aflora rapidamente. Ou alguém acha que a ação da mídia venezuelana na tentativa de deposição de Hugo Chávez, em abril de 2002, é algo restrito à fragilidade institucional daquele país?
Quem assistir ao documentário A Revolução não Será Televisionada, filmado e dirigido pelos irlandeses Kim Bartley e Bonnacha O’Brien, verá que há mais similitudes entre Caracas e Brasília do que imagina um editorialista da Globo. As cruzadas das emissoras Venevisión, Globovisión e RCTV são assustadoramente familiares.
As imagens, usadas como justificativa para o golpe, de um grupo de militantes chavistas supostamente atirando em manifestantes numa ponte, são emblemáticas. A edição ampliada mostra o oposto: os apoiadores do presidente respondem ao fogo de franco-atiradores que disparavam contra a multidão. Mantidas as proporções, não há como não lembrar das trucagens empregadas pela TV Globo, após o atentado ao Riocentro, em 1981. No Jornal Nacional, uma das bombas mostradas no carro dos militares no telejornal da tarde sumiu. E, até hoje, ninguém sabe, ninguém viu.
Quando as multidões foram às ruas exigir o retorno de Chávez ao poder, as empresas golpistas ignoraram as manifestações. Quem viveu a ditadura militar sabe da capacidade da emissora monopolista de promover extermínios imagéticos de grande escala. Claro que, ao contrário de vários articulistas, não confundo formações sociais distintas.
Brasil e Venezuela têm conjuntos históricos intransferíveis, relações de poder matizadas por clivagens completamente diferentes, mas em três coisas se assemelham: no grau de exclusão, na truculência de suas classes dominantes e na capacidade de prestidigitação de seus aparelhos ideológicos. Os franco-atiradores antidemocráticos são os agendáveis dos conceituados colunistas tanto aqui como lá
Mas quem pensa que a solidariedade se esgota aqui, está redondamente enganado. Se voltarmos no tempo, veremos que a Globo comemorou a tentativa de deposição de Chávez. Não houve análise, houve regozijo. Para os que suspeitam que fazemos ilações quando falamos da vocação golpista do canal cevado na ditadura militar, reproduziremos, tal como fizemos há 5 anos, o que disseram três profissionais da emissora, no dia 12/4/2002. Quem assistiu aos telejornais da Globo teve uma bela aula do papel da mídia como “ alicerce da democracia”. Os que não assistiram terão as evidências empíricas que tanto reclamam.
Hugo Chávez havia sido deposto e o poder entregue ao empresário Pedro Carmona, presidente da entidade patronal Fedecámaras. Era o suposto fim de mais um governo que fez da soberania nacional seu projeto. Da América Latina, sua prioridade. E que, encarnando aquilo que Gramsci chamaria de “cesarismo progressivo”, pôs no lixo da história as agremiações tradicionais (Ação Democrática e Copei) e as oligarquias que se refestelaram de petrodólares , sem reinvestir no país um centavo sequer.
O Jornal Nacional, naquela ocasião, não era econômico em seu entusiasmo: “‘Num pedaço do mundo onde a democracia ainda é uma experiência recente, Hugo Chávez e Fernando de La Rúa frustraram milhões de eleitores em seus países com promessas que não poderiam cumprir. Que sirva de alerta aos brasileiros neste ano de eleição’, recomenda o cientista político Fernando Abrúcio, em São Paulo. ‘É bom lembrar que é preciso colocar a democracia no lugar do salvacionismo. Mas tem que resolver a questão econômica e social, talvez com mais paciência e menos demagogia. O terreno é fértil para um discurso de salvação fácil. Mas é preciso evitar esse discurso, porque a resposta do salvacionismo não leva a uma melhor situação no Brasil, na Argentina ou na Venezuela’”.
Lembremos que Abrúcio (um dos analistas diletos da emissora) alertava contra a candidatura Lula. Um golpe pegava carona no outro. Tudo como manda a democracia da tela, feita para ser vista, jamais para ser vivida.

O bufão

Arnaldo Jabor, definido magistralmente pelo cartunista Jaguar como o “único rebelde a favor que se tem notícia”, compareceria com sua bufonaria habitual: “Eu ia dizer que a América Latina estava se ‘rebananizando’, com o Hugo Chávez no seu delírio fidelista, com a Colômbia misturando guerrilha e pó, abrindo a Amazônia para ações militares americanas e com a Argentina legitimando o preconceito de que latino não consegue se organizar. Os norte-americanos não conseguem nos achar sérios e democratas. É mais fácil nos rotular de incompetentes e ditatoriais. Mas aí, hoje, o Chávez caiu. Só que os militares entregaram o governo a um civil democrata. Talvez a América Latina tenha entendido que a idéia de romper com tudo, do autoritarismo machista, só dá em bananada. Temos que nos defender, sim, da atual arrogância imperial americana. Mas a única maneira será pela democracia radical. Por isso acho boa notícia a queda do Chávez. Acordamos mais fortes hoje e eu já posso ‘desbananizar’ a América Latina. Para termos respeito da América e do mundo temos de ser democráticos. Tendo moral pra dizer não”
Ignoramos o que houve com a banana de Jabor após o retorno de Chávez. Ao contrário do monolitismo do discurso autoritário, são diversos os usos que se pode fazer da fruta.
Quer dizer que os militares haviam entregado o governo a um civil democrata? O empresário Pedro Carmona dissolveu o Congresso, destituiu todos os integrantes da Suprema Corte e ganhou mecanismos para dissolver os poderes constituídos em todos os níveis. Mas a desfaçatez do jornalismo global não tem limites como revela o diálogo entre a então apresentadora Ana Paula Padrão e o jornalista William Waack, no Jornal da Globo, o mesmo que aparece hoje sempre com expressão contrafeita ao comentar qualquer fato envolvendo o atual governo:
“- William, Chávez deu muito trabalho aos Estados Unidos. Bush deve estar comemorando, não?
- Ana Paula, as posições do ex-presidente venezuelano de fato irritaram os americanos. Há insistentes comentários de que Chávez gostava de se meter na política dos países vizinhos. E parece que além de apoio político, nada discreto, Chávez teria dado facilidades militares aos guerrilheiros colombianos das Farc, que escaparam de alguns cercos do exército colombiano fugindo pela fronteira da Venezuela.
- William, para o restante da América Latina, que significado tem a queda de Chávez?
- Ana Paula, o estilo mandão de Chávez prova que a era do populismo não funciona, e olhe que ele tinha um formidável caixa para distribuir, devido ao fato de a Venezuela ser um grande produtor de petróleo. Na verdade, Chávez prova uma lição que o restante da América do Sul aprendeu já há algum tempo: quem trata a democracia como ele tratou, desrespeitando instituições e preferindo mandar com a bota em vez de dialogar, não deve ficar espantado ao ser varrido do poder.”
Em suma, nunca a Globo se mostrou tão venezuelana como naquela noite. Nunca interpretou tão bem seu papel de protagonista da globalização neoliberal na periferia. Poucas vezes foi tão explícita em esmagar a cidadania usando seu poder de mídia. Desde aquele 12 de abril, golpismo deixou de ser um termo genérico. Na TV Globo, como vimos, tem nomes, sobrenomes e profissões conhecidas.
O que nos resta, como democratas, ante a nova ofensiva midiática contra o presidente venezuelano? Juntarmo-nos aos que lutam por uma nova ordem informativa e prestar incondicional solidariedade a Hugo Chávez. Isso é o mínimo.

Condoleezza fracassa na OEA em sua defesa da TV golpista


Contrapondo-se às pressões dos EUA, a OEA adotou projeto da Venezuela que conclama os Estados membros a fomentar democratização da mídia pelo “enfoque pluralista da informação” e pelo estímulo ao “exercício da liberdade de expressão”
A Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou na terça-feira, 5, a proposta venezuelana sobre “O direito à liberdade de pensamento e expressão, e a importância dos meios de comunicação social”, apresentada pelo embaixador no organismo, Jorge Valero.
Contrapondo-se às pressões exercidas pelos Estados Unidos para aprovar uma condenação ao governo de Hugo Chávez, a Assembléia Geral da OEA adotou na Cidade do Panamá, entre os dias 4 e 5 passados, a resolução que convoca os membros da Organização a “promover um enfoque plu-ralista da informação e múltiplos pontos de vista mediante o fomento do pleno exercício da liberdade de expressão e de pensamento”. Assinala também que, para conseguir este objetivo, “é fundamental o acesso aos meios de comunicação pelo conjunto da população; a diversidade de proprietários dos mesmos, assim como às fontes de informação, através de sistemas transparentes de concessão de licenças e regulamentos que impeçam a concentração indevida da propriedade dos meios de comunicação”.
O documento conclama os Estados membros a “adotar medidas para evitar violações ao direito à liberdade de pensamento e expressão, assegurando que a legislação nacional se ajuste às obrigações internacionais em matéria de direitos humanos e se aplique com eficácia”.
ISOLAMENTO
“Os Estados Unidos ficaram sós em sua agressão contra nossa Pátria, contra nosso presidente Hugo Chávez, contra nossa democracia, contra nosso povo. Ficaram absolutamente sós. Os tempos mudaram. Condoleezza Rice abandonou a Assembléia da OEA quando viu que não podia impor o seu critério. Saiu sozinha e derrotada em sua defesa à RCTV”, afirmou o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, referindo-se à participação da representante da Casa Branca na Assembléia.
Após uma réplica que lhe fora concedida, Rice saiu rapidamente do recinto do Centro de Convenções Atlapa, sem escutar a resposta do chanceler venezuelano. Nicolás não só se opôs ao pedido invasivo dos EUA para se meter nos assuntos internos do seu país, como também denunciou a violação da agenda da reunião com a questão da RCTV. O tema original do encontro, em torno do qual existia consenso prévio, era a energia para o desenvolvimento sustentado.
FUGA AO DEBATE
O ministro Maduro lembrou à funcionária de Bush sobre as numerosas invasões dos EUA contra países latino-americanos, e o atropelo cometido contra muitos outros direitos humanos. Quando ficou claro que nenhuma delegação do Continente acompanharia a tentativa de Washington de atacar e condenar a Venezuela pelo seu soberano direito de não renovar a concessão da Rádio Caracas de Televisão, e democratizar seu espaço radioelétrico, Rice saiu abruptamente no transcorrer do debate.
Em seu discurso, na segunda-feira, dia 4, a secretária de Estado pediu que fosse enviada uma delegação da OEA – organismo que antes servia como instrumento de ingerência da política norte-americana – para investigar a decisão do governo Chávez sobre a RCTV, sob o pretexto de que houvera ataque aos direitos humanos.
“Vejam como se liga perfeitamente a estratégia dessa oposição de direita venezuelana, articulada com a Embaixada dos Estados Unidos, com esse pedido à OEA. Eles estavam buscando sangue nas ruas de Caracas todos os dias, para pedir a intervenção internacional. Como não podem com a liderança do presidente Chávez, com a fortaleza de nosso povo, então pedem que venham de fora fazer o trabalho que eles são incapazes de fazer porque não têm a razão, liderança, nem verdade, nem projeto”, assinalou o chanceler Maduro.
GUANTÁNAMO
“Se os EUA pretendem se converter em paladinos dos direitos humanos, que abram os cárceres de Guantánamo, que permitam que a construção do muro na fronteira com o México possa ser supervisada pelo mundo, que se investiguem as centenas de casos de desaparições de homens e mulheres nessa fronteira”, respondeu Nicolás ao elogio de Condoleezza à “liberdade de expressão” que ela considera que é praticada pelas redes de televisão americanas.
“Se lá se pratica toda essa liberdade de imprensa, que permitam uma reportagem feita pela TVes, o novo canal da Venezuela, que inclua entrevistas com todas as pessoas presas lá, em Guantánamo”, sugeriu Nicolás Maduro.
Sobre a saída intempestiva de Condoleezza da sala, ainda agregou que “é o reconhecimento do isolamento em que está o governo dos EUA no hemisfério”. Continuando, Nicolás disse que “fugiu porque se sentem sozinhos. Quando eles não estavam sós, bombardeavam os povos; quando tinham submetidos a seus interesses muitos governos do nosso continente, invadiram a Guatemala e assassinaram mais de cem mil homens e mulheres, isso aconteceu em 1954; invadiram o Panamá em 1990 e assassinaram, só num bairro, 3000 homens e mulheres que estavam dormindo em suas casas; invadiram Granada, Cuba, Nicarágua, República Dominicana, Haiti; punham e tiravam governos; deram um golpe de Estado contra Salvador Allende e instauraram Pinochet. Eles faziam o que lhes dava na telha na América Latina”.
O ministro venezuelano acrescentou que os governos norte-americanos “somente utilizaram a OEA no passado para justificar invasões e destituição de governos legítimos; enfim, para justificar seus abusos na região. Hoje há uma nova situação no Continente. Não somos inferiores a eles e por isso exigimos relações de iguais, de você a você, de respeito à soberania, à igualdade. Vamos seguir avançando. Hoje demos um passo gigantesco que é falar com a verdade ao Império na sua cara, com respeito, com altura. Mas as verdades que falamos não as podem desmentir”.
Concluindo, o ministro afirmou: “temos denunciado um novo plano contra o presidente Chávez, financiado e dirigido pelo governo dos Estados Unidos. Hoje ficou claro perante o mundo quem está por trás desse plano e dizemos a esse governo, em nome da legitimidade da liderança do comandante Chávez, que esse plano também vai ser derrotado, com o povo da Venezuela e a solidariedade dos homens e mulheres deste Continente”.
SUSANA SANTOS

Thursday, May 17, 2007

Pravda: “A vitória contra o nazismo na 2ª Guerra teve um líder, Josef Stalin”

“Passados sessenta e dois anos do final da II Guerra Mundial, vale a pena refletir sobre a enorme campanha que, há décadas, vem sendo desenvolvida contra a figura de Stalin, na verdade contra o líder do povo soviético nessa vitória”, afirma o presente artigo que, em comemoração do 62° aniversário da vitória do povo soviético contra as tropas nazistas, o jornal eletrônico Pravda publicou no dia 10
Nove de maio ( I ) é a data em que o povo soviético comemora o Dia da Vitória contra o fascismo. Epopéia de um povo que foi o responsável principal pela derrota do nazi-fascismo, sustentando com sacrifícios inauditos o combate às tropas de Hitler. “É indiscutível que o principal peso das lutas contra as forças armadas fascistas recaiu sobre a União Soviética. Foi a mais cruel, sangrenta e dura de todas as guerras que sustentou nosso povo. Basta dizer que mais de 20 milhões de soviéticos morreram durante o conflito.” ( II ) Uma vitória do Estado socialista, da União Soviética (URSS), do Exército Vermelho, em uma guerra de todo o povo, dirigida pelo Partido Comunista, e que tinha um líder, o seu principal dirigente, Josef Stalin.
Passados sessenta e dois anos do final da II Guerra Mundial vale refletir sobre a imensa campanha que, há décadas, vem sendo lançada contra a figura de Stalin, na verdade, contra o líder do povo soviético nessa vitória. E não só contra Stalin, mas também contra outras lideranças comunistas, como Lênin, fundador do Partido Comunista da Rússia (Partido Bolchevique) e o seu principal dirigente na revolução de outubro de 1917, e contra Mao Tse Tung, destacado líder de uma revolução popular e da derrota contra os invasores japoneses na China.
Contra eles, livros e mais livros são lançados e estampados com destaque nas prateleiras das livrarias. Cabe aqui uma indagação. Se o socialismo acabou, se é uma página virada da história, por que tanta necessidade de caluniar, de se bater contra aqueles que estiveram à frente dos povos que em alguns anos, algumas décadas, abalaram o mundo? Ou melhor, abalaram o domínio imperialista sobre os povos do mundo. Povos que descortinaram um novo horizonte, livre da miséria, da fome, da exploração de uma classe por outra, para um imenso contingente da população no mundo.
AVANÇOS
Países que em poucos anos experimentaram imensos avanços no campo social, da saúde, da educação, da tecnologia e que, com isso, impulsionaram a luta de classes do proletariado e dos povos em todo o mundo e obrigaram os governos dos países imperialistas e, em certos segmentos, também dos países dominados, a “concederem” um “Estado de bem-estar social” a um conjunto de trabalhadores. A possibilidade de novas revoluções chacoalharem o domínio imperialista, em particular dentro de seus próprios territórios, assustou as classes dominantes. Com os chamados “Estados de bem-estar social”, perdiam-se alguns anéis, para não se perder os dedos.
Nesse sentido, toda esta difamação (contra as principais lideranças dos países que experimentaram a construção do socialismo) não seria um temor, um medo das classes dominantes, da grande burguesia no mundo, da alternativa que os comunistas apresentam ou teriam condições de apresentar à barbárie capitalista, ao desemprego, à miséria, à violência e às guerras contra os povos explorados e oprimidos, promovidas pelo imperialismo na conjuntura atual? Por isso a necessidade de atacar os líderes, expressões das vitórias dos povos na construção do socialismo e na derrota do capitalismo, com a tentativa de desqualificar, por meio da mentira, do método fascista de repetir mil vezes uma mentira. E obstar reflexões, por pequenas que sejam, desestimular o conhecimento, o debate e estudo do marxismo, da ciência marxista, do marxismo-leninismo, das experiências de construção do socialismo, suas grandes vitórias e seus equívocos.
É a tentativa de impedir um balanço das experiências de construção do socialismo com base no materialismo histórico, analisando a luta de classes, a partir dos interesses da classe operária, das classes dominadas, da luta de posições teóricas, políticas e ideológicas, como expressões da luta de classes, em cada formação econômico-social e no mundo. A retomada do marxismo, do marxismo-leninismo, do partido revolucionário, se constitui em uma ameaça ao imperialismo, ao espectro que ora ronda o mundo, o espectro da barbárie capitalista.
Contra Stalin, em particular, não há artigo “politicamente correto”, para não dizer palatável, no campo da ideologia dominante, burguesa, que não contenha alguma alusão depreciativa à sua pessoa. O texto ou artigo pode estar se referindo a assuntos os mais variados e diversos, mas se for necessário dar um ar de “esquerda”, de “politicamente correto”, mas palatável, deve - noves fora - sobrar uma bordoada para Stalin. É sempre de bom tom criticá-lo, manter dele distância. “Crítica” geralmente sem um mínimo conhecimento ou pesquisa da história, da análise da conjuntura em que ocorreram estes acontecimentos históricos da época de Stalin. “Crítica” que, na maioria das vezes, repete as versões levantadas pela extrema direita internacional, abraçadas e divulgadas pelos revisionistas de todos os matizes.
NOVO OLHAR
Uma das acusações favoritas no momento, mas que também não é inédita, é a de que Stalin não preparou a URSS para a guerra contra o nazismo. Teria sido pego de surpresa, teria desdenhado dos que o advertiram sobre a iminência da invasão alemã. Teria sido um aliado de Hitler, do fascismo, com a realização do pacto de não agressão germâno-soviético. É uma acusação feita agora, repetidas vezes, que – mantida no senso comum – tem o propósito de tornar-se verdade. Se não é possível ignorar o papel que Stalin teve à frente da resistência do povo soviético, nos aspectos políticos, ideológicos e militares, tenta-se de algum modo depreciá-lo.
Ludo Martens ( III ) relembra esse questionamento, “Stalin preparou mal a guerra antifascista?”, em seu livro “Stalin, um outro olhar” ou “Stalin, um novo olhar”, na edição brasileira (Editora Revan) ( IV ). E, baseado em intensa e zelosa pesquisa em documentos, depoimentos, arquivos, vai responder a esse e outros ataques desferidos contra Stalin.
Como afirma Renato Guimarães, da Revan, em Nota do editor no Brasil: “É um livro muito documentado, que resulta de anos de trabalho paciente e minucioso de pesquisa. Quem o ler, mesmo quando muito informado sobre o tema, certamente se verá enriquecido com preciosa informação que desconhecia e poderá situar-se melhor para formar um juízo próprio em assunto tão polêmico e tão complexo.”
Sobre o papel de Stalin na preparação da URSS para a guerra, pela particular relevância em relação à vitória contra o nazi-fascismo, reproduzimos do livro de Ludo Martens:
“Stalin preparou mal a guerra antifascista?
Quando Kruschev tomou o poder, ele havia se desviado completamente da linha do partido. Para fazer isso, ele teve de atacar Stalin e sua política marxista-leninista. Em uma série de calúnias inverossímeis, ele chegou até a negar os imensos méritos de Stalin na preparação e na condução da guerra antifascista.
Assim, Kruschev pretendeu que, no curso dos anos 1936-1941, Stalin tinha preparado mal o país para a guerra.
KRUSHEV
Eis suas palavras:
‘Stalin levantou a tese segundo a qual a tragédia era o resultado do ataque surpresa dos alemães contra a União Soviética. Mas, camaradas, isso é de fato totalmente inexato. Desde que Hitler apoderou-se do poder na Alemanha, ele se atribuía a tarefa de liquidar o comunismo. (...) Vários fatos do período anterior à guerra mostram que Hitler preparava uma guerra contra o Estado soviético (1). Se nossa indústria tivesse sido mobilizada de forma adequada e no tempo requerido para fornecer ao Exército o material necessário, nossas perdas de guerra teriam sido nitidamente reduzidas. (...) Nosso exército estava mal equipado. (...) A tecnologia soviética tinha produzido antes da guerra excelentes modelos de tanques e de peças de artilharia. Mas a produção em série desses modelos não foi organizada.’ (2)
Que os participantes do XX Congresso tivessem podido escutar essas calúnias sem que protestos indignados tivessem ocorrido de todas as partes dizia muito sobre a degenerescência política já em curso. Contudo, na sala, encontravam-se dezenas de marechais e generais que sabiam até que ponto aquelas palavras eram ridiculamente falsas. Na hora, ninguém abriu a boca. Seu profissionalismo estreito, o exclusivismo militar, a negação da luta política no seio do Exército, a rejeição da direção ideológica e política do partido sobre o Exército: tudo isso os aproximava do revisionismo de Krushev. Zhukov, Vassi-levski , Rokossovski, praticamente todos os grandes chefes militares, não tinham jamais aceitado a necessidade de depuração do Exército em 1937-1938.
Eles não tinham sequer compreendido o contexto político do processo de Bukharin. Por estas razões, eles apoiaram Kruschev, quando este substituiu o marxismo-leninismo pelas teses rebuscadas dos mencheviques, trotskistas e bukharinistas. Isto explica por que os marechais engoliram as mentiras de Kruschev em relação à II Guerra Mundial. Posteriormente, eles refutaram essas mentiras, em suas memórias, quando já não havia jogo político e essas questões tornaram-se puramente acadêmicas.
Em suas Memórias, publicadas em 1970, Zhukov sublinha com razão, diante das alegações de Kruschev, que a verdadeira política de defesa tinha começado com a decisão de Stalin de lançar a industrialização em 1928.
‘Era possível adiar em cinco ou sete anos o desenvolvimento acelerado da indústria pesada, a fim de dar ao povo objetos de consumo corrente antes e em maior quantidade. Isso não era tentador?’ (3).
Stalin preparou a defesa da União Soviética construindo mais de 9.000 empresas industriais entre 1928 e 1941 e tomando a decisão estratégica de implantar ao leste do país uma possante base industrial nova (4). A propósito da política de industrialização, Zhukov rendeu homenagem à ‘sagacidade e clarividência’ de Stalin, que foram ‘sancionadas de maneira definitiva pelo julgamento supremo a história’ no curso da guerra (5).
PLANO QÜINQÜENAL
Em 1921, em quase todos os domínios da produção militar, foi preciso começar do zero. Durante os anos do primeiro e segundo plano qüinqüenal, o partido tinha previsto para a indústria de guerra uma taxa de crescimento superior àquela dos demais ramos da indústria (6).
Vejamos dois números significativos dos dois primeiros planos.
A produção anual de tanques era de 740 unidades, em 1930. Ela tinha alcançado 2.271 unidades, em 1938 (7). Para o mesmo período, a construção de aviões tinha aumentado de 860 para 5.500 unidades por ano (8).
No curso do terceiro plano qüinqüenal, entre 1938 e 1940, o crescimento da produção na indústria foi de 13% ao ano, mas a produção da indústria da defesa cresceu 39% (9).
A moratória obtida, graças ao pacto germano-soviético, foi explorada por Stalin para levar a produção militar ao máximo. Zhukov o testemunha.
‘A fim de que as usinas de defesa de certa importância pudessem receber tudo que lhes era necessário, delegados do Comitê Central, organiza-dores experimentados e especialistas conhecidos, foram nomeados para a direção de suas organizações do partido. Eu devo dizer que Josef Stalin desenvolveu um trabalho considerável, ocupando-se ele próprio das empresas que trabalhavam para a defesa. Ele conhecia bem dezenas de diretores de usinas, de organizadores do partido, os principais engenheiros, via-os freqüente-mente e obtinha, com a perseverança que o caracterizava, a execução dos planos previstos’ (10).
As entregas militares efetuadas entre 1° de janeiro de 1939 e 22 de junho de 1941 foram impressionantes.
A artilharia recebeu 92.578 peças, das quais 29.637 canhões de campanha e 52.407 morteiros. Novos morteiros de 82 e 120 mm foram introduzidos ainda antes da guerra (11).
A Força aérea recebeu 17.745 aviões de combate, dos quais 3.719 de modelos novos. No domínio da aviação:
‘As medidas tomadas, de 1939 a 1941, criaram as condições requeridas para obter, rapidamente, no curso da guerra, a superioridade quantitativa e qualitativa’ (12).
O Exército Vermelho recebeu mais de 7.000 tanques. Em 1940, começou a produção do tanque médio T-34 e do tanque pesado KV, superiores aos tanques alemães. Já se haviam produzido 1.851, quando a guerra estourou (13).
A propósito destas realizações, como para expressar seu desdém pelas acusações de Kruschov, Zhukov se dedicou a uma autocrítica reveladora:
‘Lembrando-me daquilo que nós, os militares, exigíamos da indústria no curso dos últimos meses de paz e como nós o exigimos, vejo que não levávamos bastante em conta as possibilidades econômicas reais do país’ (14).
A preparação militar propriamente dita foi também impulsionada com o máximo rigor, por Stalin. Os enfrenta-mentos militares com o Japão, em maio-agosto de 1939, e com a Finlândia, entre dezembro de 1939 e março de 1940, estavam diretamente ligados à resistência antifascista. Estas experiências de combate foram analisadas em profundidade para preencher as lacunas e as falhas do Exército Vermelho.
Em março de 1940, uma reunião do Comitê Central examinou as operações contra a Finlândia.
‘Os debates foram muito violentos. A instrução e formação de nossas tropas foram severamente criticadas’, afirma Zhukov (15). Em maio, Zhukov foi recebido por Stalin, que lhe disse:
‘Você tem agora a experiência do combate. Assuma o comando da região de Kiev e utilize sua experiência para a instrução das tropas’ (16).
Na visão de Stalin, Kiev tinha uma significação militar particular. Era aí que esperava o golpe principal quando da agressão alemã.
Stalin estava persuadido de que os hitleristas, no curso de sua guerra contra a União Soviética, iriam, em primeiro lugar, tentar apoderar-se da Ucrânia e da bacia de Donetz, a fim de privarem nosso país dessas regiões econômicas importantes, de tomar o trigo ucraniano, o carvão de Donetz e mais tarde o petróleo do Cáucaso. No curso do exame do plano operacional, na primavera de 1941, J. Stalin dizia: ‘Sem possuir recursos vitais importantes, a Alemanha nazista não poderá sustentar uma guerra muito prolongada’. (17)
ZHUKOV
No verão e no outono de 1940, Zhukov submeteu suas tropas a uma intensa preparação para o combate. Ele constatou que dispunha de jovens oficiais e de generais capazes. Ele lhes fez assimilar as lições que se resgataram das operações alemãs contra a França.(18)
De 23 de dezembro de 1940 a 13 de janeiro de 1941, todos os oficiais superiores reuniram-se para uma grande conferência. No centro dos debates: a futura guerra contra a Alemanha. A experiência acumulada pelos fascistas com grandes corpos blindados foi estudada com uma atenção particular. No dia seguinte ao da conferência, um grande exercício operacional e estratégico sobre o mapa teve lugar. Stalin o assistiu. Zhukov escreveu:
‘A situação estratégica repousava sobre os acontecimentos que poderiam se desenvolver sobre nossa fronteira ocidental, no caso em que a Alemanha atacasse a União Soviética’. (19)
Durante estes exercícios Zhukov dirigiu a agressão alemã, Pavlov, a resistência soviética.
‘O exercício abundou em peripécias dramáticas para a parte vermelha. As situações que se apresentaram após 22 de junho de 1941 pareciam-se muito àquelas daquele exercício...’ notou Zhukov. Pavlov perdeu a guerra contra os nazistas. Stalin o admoestou energicamente:
‘O comandante das tropas de uma região deve possuir a arte militar e saber encontrar a solução em qualquer situação. Tal não foi o seu caso.’ (20)
CONSTRUÇÃO
A construção de setores fortificados ao longo da nova fronteira ocidental foi enfrentada em 1940. No começo da guerra chegou-se a construir perto de 1.500 instalações em concreto. 140.000 homens trabalhavam todo dia.
‘E Stalin nos pressionava para terminar’, diz Zhukov. (21)
A XVIII Conferência do partido, de 15 a 20 de fevereiro de 1941, foi integralmente consagrada à preparação da indústria e dos transportes na previsão da guerra. Delegados vindos de toda a União Soviética elegeram certo número de militantes membros suplentes do Comitê Central. (22)
No começo de março de 1941, Timochenko e Zhukov pediram a Stalin que convocasse os reservistas da infantaria. Stalin recusou para não dar aos alemães um pretexto para provocar a guerra. Finalmente, ao final de março, ele aceitou convocar cerca de 800.000 reservistas, que seriam dirigidos para as fronteiras. (23)
Em abril, o Estado-Maior geral informava Stalin de que as tropas das regiões militares do Báltico, da Bielorússia, de Kiev e de Odessa não eram suficientes para responder ao ataque. Stalin decidiu fazer avançar para as fronteiras 28 divisões, reunidas em quatro exércitos, e destacou a necessidade de proceder com extrema prudência para não provocar os nazistas. (24)
A 5 de maio de 1941, no grande palácio do Kremlin, Stalin falou diante dos oficiais saídos das academias militares. Seu tema central:
‘Os alemães estão errados em acreditarem que seu exército é um exército invencível’. (25)
Todos esses fatos permitem refutar as críticas malévolas habitualmente levantadas contra Stalin:
‘Ele tinha preparado o Exército para a ofensiva, mas não para a defensiva’; ‘Ele tinha confiança no Pacto germano-soviético e em Hitler, seu cúmplice’; ‘Ele não esperava que houvesse uma guerra contra os nazistas’. Essas calúnias visavam desacreditar as proezas históricas dos comunistas e, em conseqüência, aumentar o prestígio de seus adversários.
Zhukov, que desempenhou um papel essencial na tomada de poder de Kruschov entre 1953 e 1957, teve o cuidado, em suas Memórias, de desmentir de forma contundente o relatório secreto de Kruschov. Sobre a preparação do país para a guerra, ele concluiu assim:
‘A obra da defesa nacional, quanto a seus traços e orientações fundamentais e essenciais, tinha sido conduzida da maneira adequada. Durante anos, fez-se tudo ou quase tudo que se podia fazer, tanto no setor econômico quanto no setor social. Quanto ao período que se estende de 1939 até a metade de 1941, é uma época em que o povo e o partido forneceram, para reforçar a defesa, esforços particularmente importantes, esforços que exigiam aplicação de todas as forças e de todos os meios. Uma indústria desenvolvida, uma agricultura coletivizada, a instrução pública estendida ao conjunto da população, a unidade da nação, o poder do Estado socialista, o nível elevado do patriotismo do povo, a direção que, para o partido, estava prestes a realizar a unidade entre a frente e as retaguardas, todo este conjunto de fatores foi a causa primeira da grande vitória que devia coroar nossa luta contra o fascismo.
Só o fato de que a indústria soviética tenha podido produzir uma quantidade colossal de armamentos: perto de 490.000 canhões e morteiros, mais de 102.000 tanques e canhões autopropulsados, mais de 137.000 aviões de combate, prova que os alicerces da economia, do ponto de vista militar, foram essenciais e fundamentais, o partido e o povo tinham sabido preparar a defesa da pátria. Ora, é o essencial e o fundamental que, no final das contas, decidem a sorte de um país em guerra.’” (26)
Notas da introdução
(I) “(...) Às 0 horas e 43 minutos de 9 de maio de 1945 terminou a assinatura da ata de capitulação incondicional da Alemanha. (...) “ Mariscal de la Unión Soviética Gueorgui Zhukov, Memorias y reflexiones, t.2, Ed. Progreso, Moscú, 1991, p. 402. (II) Mariscal de la Unión Soviética Gueorgui Zhukov, Memorias y reflexiones, t.2, Ed. Progreso, Moscú, 1991, p. 415.
(III) Ludo Martens é autor de vários livros, além de ‘Um outro olhar sobre Stalin’ (1994) e ‘ A URSS e a contra-revolução de veludo’ (1991). É dirigente do Partido do Trabalho da Bélgica.
(IV) ‘Stalin preparou mal a guerra antifascista?’ é uma parte do capítulo 9, ‘Stalin e a guerra antifascista’, do livro de Ludo Martens ‘ Um novo olhar sobre Stalin’, Ed. Revan, (2003). Do mesmo capítulo: ‘O pacto germano-soviético’, ‘O dia do ataque alemão’, ‘Stalin em face da guerra de extermínio dos nazistas’, e ‘Stalin, sua personalidade, sua capacitação militar’.
Notas
(1) Petit encyclopédie politique du monde, Ed. Chanteclair, Rio de Janeiro, 1943, p.102.
(2) Ibidem, p.105
(3) Zhukov, Mémoires, tome II, Ed. Fayard, Paris, 1970, p.156.
(4) Ibidem, p.201.
(5) Ibidem, p.156.
(6) Ibidem, p.203.
(7) Ibidem, p.204
(8) Ibidem, p.204-205.
(9) La grande guerre nationale, Ed. du Progrés, Moscú, 1974, p.33.
(10) Ibidem, p.279.
(11) Zhukov, op.cit., p.291. Et La grande guerre, op.cit., p.33
(12) Zhukov, op.cit., p.296. Et La grande guerre, op.cit., p.33
(13) Zhukov, op.cit., p.286. Et La grande guerre, op.cit., p.33
(14) Zhukov, op.cit., p.280
(15) Zhukov, op.cit., p.264
(16) Zhukov, op.cit., p.250
(17) Zhukov, op.cit., p.311
(18) Zhukov, op.cit., p.234
(19) Zhukov, op.cit., p.270-271
(20) Zhukov, op.cit., p.272
(21) Zhukov, op.cit., p.312-315
(22) Zhiline, op. cit., p.212. E Zhukov, op. cit., p.308
(23) Zhukov, op. cit., p. 287-288
(24) Ibidem, p.321-322
(25) Ibidem, p.334
(26) Ibidem, p.335-337