Wednesday, May 21, 2008

Resposta hemisférica ianque: A 4ª Frota de intervenção


REFLEXÕES DE FIDEL PARA O CUBADEBATE

• SURGIU em 1943 para lutar contra os submarinos nazistas e proteger a navegação durante a Segunda Guerra Mundial. Foi desativada em 1950 por ser desnecessária. O Comando Sul supria as necessidades hegemônicas dos Estados Unidos em nossa área. Contudo, acaba de renascer há uns dias, depois de 48 anos, e seus fins intervencionistas não é preciso demonstrá-los. Os próprios chefes em suas declarações o divulgam de maneira natural, espontânea e, inclusive, discreta. Agoniados com os problemas do preço dos alimentos, da energia, do intercâmbio desigual, da recessão econômica no mercado mais importante para seus produtos, da inflação, das mudanças climáticas e dos investimentos necessários para os sonhos consumistas, comprometem o tempo e as energias de dirigentes e dirigidos.
A verdade é que a decisão de restabelecer a 4ª Frota foi anunciada na primeira semana de abril, quase um mês depois de o território do Equador ser atacado com bombas e tecnologia dos Estados Unidos e por pressão deles, matando e ferindo cidadãos de diversos países, o qual causou profunda rejeição entre os líderes latino-americanos na reunião do Grupo do Rio que teve lugar na capital da República Dominicana.
Pior ainda: o fato acontece quando é quase unânime o repúdio à desintegração da Bolívia, promovida pelos Estados Unidos. Os próprios chefes militares explicam que terão sob sua responsabilidade mais de 30 países cobrindo 15,6 milhões de milhas quadradas nas águas próximas de América Central e do Sul, o mar do Caribe e suas 12 ilhas, o México e os territórios europeus neste lado do Atlântico.
Os Estados Unidos possuem dez porta-aviões do tipo Nimitz, cujos parâmetros, mais ou menos similares, são: deslocamento de 101 mil a 104 mil toneladas de carga máxima; comprimento de coberta 333 metros; largura da mesma, 76,8 metros; dois reatores nucleares; velocidade que pode atingir 56 km/h; 90 aviões de guerra. O último deles tem o nome de George H.W. Bush, pai do atual presidente; já foi batizado com champanha por seu progenitor e deve estar pronto para se unir aos demais navios nos próximos meses.
Nem um só país no mundo possui um navio similar a estes, equipados com sofisticadas armas nucleares, que podem aproximar-se a poucas milhas de quaisquer de nossos países. O próximo porta-aviões, o USS Gerald Ford, será de novo tipo: tecnologia Stealth invisível para os radares e armas eletromagnéticas. A principal empresa construtora de um tipo ou do outro é a Northrop Grumman, cujo atual presidente também faz parte da direção da empresa petroleira dos Estados Unidos Chevron-Texaco. O custo do último Nimitz foi de US$6 bilhões, sem incluir aviões, projéteis e gastos de operação, que podem ultrapassar também bilhões de dólares. Parece uma história de ficção científica. Com esse dinheiro se pôde ter salvado a vida de milhões de crianças.
Qual o objetivo declarado da 4ª Frota? "Combater o terrorismo e as atividades ilícitas, como o narcotráfico", assim como enviar uma mensagem para a Venezuela e o resto da região. Anuncia-se que começará a operar em 1º de julho próximo.
O chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, almirante James Stavrides, declarou que esse país precisa trabalhar mais forte "no mercado das idéias, para ganhar os corações e as mentes" da população da região.
Os Estados Unidos já têm as 2ª , 3ª , 5ª , 6ª e 7ª frotas espalhadas pelo Atlântico Ocidental, Pacífico Oriental, Oriente Médio, Mediterrâneo, Atlântico Oriental e Pacífico Ocidental. Faltava apenas a 4ª Frota para custodiar todos os mares do planeta. No total: nove porta-aviões Nimitz na ativa ou quase a estarem em plena disposição combativa, como o George H. W. Bush. Dispõe de uma reserva suficiente para triplicar e até quadruplicar o poder de quaisquer de suas frotas num certo teatro de operações.
Os porta-aviões e as bombas nucleares com que ameaçam nossos países servem para semear o terror e a morte, mas não para combater o terrorismo e as atividades ilícitas.
Deveriam servir também para envengonhar os cúmplices do império e multiplicar a solidariedade entre os povos.
Fidel Castro Ruz
4 de maio de 2008
20h46. •- REFLEXÕES DO FIDEL

Quarta frota da Marinha dos EUA aqui não entra, afirma o ministro Jobim


O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou que o governo brasileiro não permitirá que a quarta frota da Marinha norte-americana navegue em águas brasileiras sem autorização do país. “Aqui não entra!”, disse Jobim após encontro com militares do Exército, no Rio de Janeiro, na sexta-feira.
“Só entrará autorizada por nós e para visitas cordiais, mas absolutamente não vai fiscalizar a área brasileira. Quem fiscaliza somos nós”, disse Jobim, acrescentando ainda que “por isso, o governo já decidiu pela construção do submarino de propulsão nuclear para viabilizar a fiscalização dessa bacia”.
As declarações do ministro foram motivadas pelas notícias de que a Marinha norte-americana está recriando sua Quarta Frota, que será responsável pelos navios, submarinos e aeronaves do país em operação na América do Sul, Central e no Caribe. A esquadra existiu entre 1943 e 1950.
CONSELHO SUL-AMERICANO DE DEFESA
Nelson Jobim, viajou no dia 12 ao Cone Sul para promover junto aos presidentes da Argentina, Chile e Uruguai a criação do Conselho Sul-americano de Defesa, de iniciativa do presidente Lula.
“Não se trata de uma aliança militar convencional, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas de uma aliança de diálogo entre os ministérios de Defesa para uma integração do pensamento visando a formação de uma política regional de defesa”, afirmou Jobim. Os princípios de “não-intervenção à soberania de cada país, à autodeterminação dos povos e à integridade territorial” são defendidos no objetivo da iniciativa.
O ministro da Defesa viajou acompanhado pelo comandante do Exército, general Enzo Martins Peri e o comandante Militar do Sul, general José Elito Carvalho Siqueira.Jobim já se reuniu com os governantes da Venezuela, Guiana, Suriname, Colômbia, Equador, Peru e Paraguai. Na próxima semana, será recebido em La Paz pelo chefe de Estado boliviano, Evo Morales.

Dois lobos famintos e uma Chapeuzinho Vermelho


FIDEL CASTRO
Uma idéia básica estava em minha mente desde meus velhos tempos de socialista utópico. Partia do nada com as simples noções de bem e do mal que a cada pessoa lhe inculca a sociedade em que nasce, cheias de instintos e carente de valores que os pais, em especial as mães, começam a semear em qualquer sociedade e época.
Como não tive preceptor político, a sorte e a casualidade foram componentes inseparáveis da minha vida. Adquiri uma ideologia por conta própria a partir do instante em que tive uma possibilidade real de observar e meditar sobre os anos que vivi como criança, adolescente e jovem estudante. A educação transformou-se para mim no instrumento por excelência de uma mudança da época na qual me tocou viver, da qual dependeria a própria sobrevivência da nossa frágil espécie.
Após uma longa experiência, o que penso hoje sobre o delicado tema é absolutamente coerente com esta idéia. Não preciso pedir desculpas, como preferem alguns, por dizer a verdade ainda que seja dura.
Há mais de dois mil anos, Demóstenes, orador grego famoso, defendeu com ardor nas praças públicas uma sociedade na qual 85 por cento das pessoas eram escravas ou cidadãos que careciam de igualdade e direitos como algo natural. Os filósofos compartilhavam esse ponto de vista. Dali surgiu a palavra democracia. Não poderíamos exigir-lhes mais em seu tempo. Hoje, que se dispõe de um enorme volume de conhecimentos, as forças produtivas se multiplicaram inúmeras vezes e as mensagens através dos meios em massa são elaboradas para milhões de pessoas; a imensa maioria, cansada da política tradicional, não quer ouvir falar dela. Os homens públicos carecem de confiança quando os povos mais a necessitam diante dos riscos que os ameaçam.
Ao se derrubar a URSS, Francis Fukuyama, cidadão norte-americano de origem japonesa, nascido e educado nos Estados Unidos e graduado em uma universidade neste mesmo país, escreve seu livro “O fim da história e o último homem”, que muitos com certeza conhecem, pois foi muito promovido pelos dirigentes do Império. Havia-se transformado num falcão do neo-conservadorismo e promotor do pensamento único.
Ficaria, segundo ele, apenas uma classe, a classe média norte-americana; os demais, penso eu, estaríamos condenados a ser mendigos. Fukuyama foi partidário decidido da guerra contra o Iraque, assim como o vice-presidente Cheney e seu seleto grupo. Para ele a história finaliza no que Marx via como “o fim da pré-história”.
Na cerimônia inaugural da Cúpula América Latina e Caribe-União Européia realizada no Peru no último 15 de maio, falou-se em inglês, alemão e outros idiomas europeus sem que partes essenciais dos discursos fossem traduzidas pelas TVs ao espanhol ou ao português, como se no México, Brasil, Peru, Equador e outros, os índios, negros, mestiços e brancos - mais de 550 milhões de pessoas, em sua imensa maioria pobre - falassem inglês, alemão ou outro idioma estrangeiro.
No entanto, menciona-se agora elogiosamente a grande reunião de Lima e sua declaração final. Ali, entre outras coisas, deu-se a entender que as armas que adquire um país ameaçado de genocídio pelo Império, como foi Cuba há muitos anos e é hoje a Venezuela, não se diferenciam eticamente das que são empregadas pelas forças repressivas para reprimir ao povo e defender os interesses da oligarquia, aliada a este mesmo Império. Não se pode transformar a nação em uma mercadoria mais nem comprometer o presente e o futuro das novas gerações.
A IV Frota não é mencionada, evidentemente, nos discursos daquela reunião que foram televisionados, como força intervencionista e ameaçadora. Um dos países latino-americanos ali representados acaba de realizar manobras combinadas com um porta-aviões dos Estados Unidos do tipo Nimitz, dotado de todo tipo de armas de extermínio em massa.
Nesse país, há uns poucos anos, as forças repressivas desapareceram, torturaram e assassinaram a dezenas de milhares de pessoas. Os filhos das vítimas foram expropriados pelos defensores das propriedades dos grandes ricos. Seus principais líderes militares cooperaram com o Império em suas guerras sujas. Confiavam nessa aliança. Por que cair de novo na mesma armadilha? Ainda que seja fácil inferir o país aludido, não desejo mencioná-lo para não ferir uma nação irmã.
A Europa, que nessa reunião foi melodiosa, é a mesma que apoiou a guerra contra a Sérvia, a conquista do petróleo do Iraque pelos Estados Unidos, os conflitos religiosos no Oriente Médio e Próximo, os cárceres e aterrissagens secretos e os planos de torturas horrendas e assassinatos forjados por Bush.
Essa Europa compartilha com os Estados Unidos as leis extraterritoriais que, violando a soberania de seus próprios territórios, aumentam o bloqueio contra Cuba obstaculizando o fornecimento de tecnologias, componentes e inclusive medicamentos ao nosso país. Seus meios publicitários associam-se ao poder midiático do Império.
O que eu disse na primeira reunião da América Latina com a Europa, realizada há nove anos no Rio de Janeiro, mantém toda sua vigência. Nada mudou desde então exceto as condições objetivas, que tornam mais insustentável a atroz exploração capitalista.
O anfitrião da reunião esteve a ponto de irritar os europeus, quando no encerramento mencionou alguns pontos propostos por Cuba:
1. Perdoar a dívida da América Latina e do Caribe.
2. Investir a cada ano dez por cento do que gastam em atividades militares nos países do Terceiro Mundo.
3. Cessar os enormes subsídios à agricultura, que competem com a produção agrícola de nossos países.
4. Atribuir à América Latina e ao Caribe a parte que lhes corresponde do compromisso de 0,7% do PIB.
Pelas caras e as olhares, observei que os líderes europeus tiveram que engolir em seco durante alguns segundos. Mas, por que se amargurar? Na Espanha seria ainda mais fácil pronunciar discursos vibrantes e maravilhosas declarações finais. Havia-se trabalhado muito. Vinha o banquete. Na mesa não haveria crise alimentar. As proteínas e os licores estariam em abundância. Faltava apenas Bush, que trabalhava incansavelmente pela paz no Oriente Médio, como é habitual nele. Estava desculpado. Viva o mercado!
O espírito dominante nos ricos representantes da Europa era de superioridade étnica e política. Todos eram portadores do pensamento capitalista e consumista burguês, e falaram ou aplaudiram em nome deste. Muitos levaram consigo aos empresários que são o pilar e a sustentação de “seus sistemas democráticos, garantidores da liberdade e dos direitos humanos”. Há que ser especialista na física das nuvens para compreendê-los.
Atualmente, os Estados Unidos e a Europa competem entre si e contra si pelo petróleo, as matérias primas essenciais e os mercados, ao que se soma agora o pretexto da luta contra o terrorismo e o crime organizado que eles mesmos criaram com as vorazes e insaciáveis sociedades de consumo. Dois lobos famintos disfarçados de vovozinhas boas, e uma Chapeuzinho Vermelho.
18 de Maio de 2008