Friday, September 26, 2008

Cartel financeiro chantageia EUA para expropriar US$ 700 bilhões

Papéis podres já estão sendo embalados pelos Rockefeller, Morgan, Goldman, etc

 

Paulson defendeu, como imprescindível para o “sucesso” do plano, que a compra dos títulos podres não se atenha ao “valor de mercado”, como os neoliberais sempre defenderam, mas a um “valor maduro” - que será definido por ele mesmo

O cartel financeiro dos EUA amplificou, ao longo da semana, sua chantagem sobre o país inteiro, para expropriar US$ 700 bilhões dos americanos, a serem embol-sados pelos Rockefeller, Morgan, Goldman, Mellon e outras famiglias de magnatas que, em troca, desovariam no Federal Reserve e no Tesouro toneladas e mais toneladas de papéis podres, derivativos em decomposição e títulos triplo-A de fancaria. Como afirmou o economista Michael Hudson, trata-se da maior transferência de riqueza da história dos EUA desde a doação de terras aos barões das ferrovias no século XIX.

5% DO PIB

A chantagem foi tornada pública pelo próprio secretário do Tesouro, Henry Paulson, aliás, ex-presidente do arrombado banco Goldman Sachs, e do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke. Ou 5% do PIB (é isso que esses US$ 700 bilhões significam) em troca de papel podre de que os bancos, empacotadoras de hipotecas, refinanciadoras, seguradoras, securitizadoras, fundos de derivativos e outras espeluncas estão entupidos – e já – ou o “pânico”, “destruição sistê-mica”, recessão e desemprego. Note-se que esse valor não inclui o que já havia sido posto anteriormente nas arcas dos banqueiros - US$ 1 trilhão.

Paulson defendeu, como imprescindível para o “sucesso” do plano, que a compra dos títulos podres seja feita, não pelo “valor de mercado”, como os neoliberais sempre defenderam, mas por um “valor maduro” - que será determinado por ele mesmo. Assim, os americanos estão ameaçados de descobrirem, de súbito, onde está metida a “mão invisível dos mercados”: enfiada nos bolsos de cada um deles, para a escorcha dos US$ 700 bilhões em prol dos banqueiros. Mas ele prometeu que, futuramente, todos os assaltados serão recompensados regiamente, graças à valorização com que, com as graças de São Patinhas, o santo protetor de Wall Street, serão abençoados os papéis podres, as hipotecas fraudadas e a classificação de risco. O secretário do Tesouro também descartou qualquer garantia real dos banqueiros quanto aos US$ 700 bilhões, no caso, ações dos bancos, dizendo que isso dificultaria a adesão. Depois de muita pressão no Congresso, admitiu que poderá haver limite para os bônus recebidos pelos executivos dos bancos com problema.

É certo que é grave a crise no cartel financeiro dos EUA, como atestam a quebra de três dos cinco principais “bancos de investimento”, Merrill Lynch, Lehman Brothers e Bear Stearns, dos dois gigantes do refinanciamento de hipotecas (Fannie Mae e Freddie Mac) e da maior seguradora do país, a AIG; os reiterados anúncios de perdas do Citibank, Wachovia e JP Morgan Chase; o estado terminal do banco Washington Mutual, entre outros. O caso é que o cartel tenta impor que a saída se dê no sentido contrário ao que Franklin Roosevelt liderou na década de 30.

A saída vislumbrada por Roosevelt significou proteger a produção e os salários, criar mecanismos para financiar a moradia, garantir os depósitos em contas correntes, separar bancos de depósitos ao público daqueles voltados para a especulação com ações e títulos e, assim, limitar a monopolização. Agora, o cartel financeiro exige US$ 700 bilhões para intensificar e radicalizar a monopolização, como na fusão dos rombos do Bank of America com os rombos do Merrill Lynch, ou no namoro do Morgan Stanley com o Wachovia. Ou na busca de calçar, para o Citibank, os US$ 138 bilhões de débito correspondente que o Lehman informou ao formalizar sua bancarrota.

RETROCESSO

As coisas chegaram a esses extremos, menos de dez anos após a derrubada, em 1999, da lei de Roosevelt de regulamentação do sistema financeiro, e que abriu caminho nos anos 30 para a superação do maior crash da vida do país. Como afirmou o senador democrata Charles Schumer, perante Paulson e Bernanke, “nos foi dito que os mercados sabiam melhor, e que nós estávamos entrando em um mundo novo de crescimento global e prosperidade”. “Agora temos de pagar pela ganância e temeridade daqueles que deveriam saber melhor”, acrescentou, apontando, ainda, ser hora da economia americana ser revivida como “o motor da prosperidade”, ao invés de ser “um cassino para apostadores da alta finança”.

ANTONIO PIMENTA

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