Wednesday, April 16, 2008

W. Bush, os milionários, o consumismo e o subconsumo


FIDEL CASTRO*

Não é necessário provar que a matança prossegue com ódio crescente no Iraque, um país onde mais de 95% do povo é muçulmano - deles, mais de 60% são xiítas e o resto sunita -; e no Afeganistão, onde mais de 99% é também muçulmano – 80% sunita, e o resto xiíta. Ambos os povos estão constituídos de nacionalidades e etnias de diversas procedências e localização.

Além de soldados dos Estados Unidos, no Afeganistão estão envolvidos os de quase todos os Estados europeus, incluído o reforço francês ordenado por Sarkozy.

Os russos não se deixaram embarcar nesta guerra; sua cota de sangue ali tinha sido suficientemente ampla e seu custo político, incalculável. Seguramente, no Afeganistão morreram, como soldados soviéticos, cidadãos da Estônia, Lituânia, Letônia, Geórgia e Ucrânia, que hoje fazem parte ou aspiram a ingressar na Otan como repúblicas ex-soviéticas.

Outro fato muito real é que a luta contra a heroína não é mencionada em um país onde a guerra tem convertido aos que cultivam a papoula em capazes de abastecer as necessidades médicas de ópio e, além disso, de prover de drogas a uma cifra inúmera de pessoas.

O presidente da Rússia observa que a Otan cresceu de 16 para 28 membros. Bush declara que mirou nos olhos de seu interlocutor russo e leu seu pensamento - é o que faz com o teleprompter -, mas não explicou se escrito em inglês ou em russo.

Extraíram da Rússia mais de 500 bilhões de dólares através dos países capitalistas da Europa Ocidental, uma parte importante dos quais foram investidos em empresas altamente rentáveis ou residências de luxo, e o resto em bancos norte-americanos amparados pelo governo desse país. Tudo era ilegal e imoral. Antes de seu desaparecimento, a URSS foi vítima de sabotagens como o que fez explodir por meios técnicos o gasoduto da Sibéria, operado com software norte-americano, cavalo de Tróia do império, e desarmou-se unilateralmente ante Reagan, como tem sido demonstrado.

Não posso menos que lembrar da segunda-feira, 3 de abril, quando coloquei de lado o volumoso boletim das notícias internacionais, e peguei o Granma desse dia para me distrair um momento. Comecei por olhar a última página. Que surpresa! Juan Varela ilustrava-nos com uma descrição quase perfeita da diferença entre o Conejito de Aguada de Pasajeros, na província de Cienfuegos, e o de Nueva Paz, província de Havana [espécie de rua 25 de Março, em São Paulo], ambos abertos 24 horas por dia. No primeiro lutou-se e luta-se numa batalha até agora ganha. No segundo, ainda que se lute, não está ganha ainda.

Que nos conta Juan Varela? “Os vendedores procedem de diferentes lugares, funcionam como uma espécie de associação com um original sistema de aviso. Mediante sinais alertam a presença de agentes da autoridade ou de qualquer dirigente. Com felina mobilidade são capazes, em poucos minutos, de desmontar o palco de operações e transladar a mercadoria para um lugar conveniente. Ali esperam o sinal de normalidade.”

De onde procede aquilo que vende a quinta-coluna em Nueva Paz? São mercadorias subtraídas de fábricas, transportes, centros de armazenagem ou distribuição. Os que rendem culto ao egoísmo sem restrição alguma por parte do Estado, o que qualificam de perturbador, não poderiam construir jamais uma obra social sólida e duradoura, que em nossa época, com o desenvolvimento das forças produtivas, só pode ser fruto da educação e a consciência, criando valores que devem ser semeados e cultivados.

Não está proibido pensar; também não está proibido sonhar, mas pensar não prejudica ninguém; sonhando pode-se afundar um país ou algo mais: a própria espécie. Junto às forças produtivas, a ciência tem desenvolvido paralelamente as forças destrutivas. Alguém pode negar?

Nesse mesmo dia, viro a folha do Granma e me encontro com a seção “Por trás da notícia”, escrita por Elson Concepção Pérez. O que diz textualmente não tem desperdício:

“Nem uma só notícia da grande imprensa refere-se às diferenças sociais, ao desemprego, a inflação, entre outros males vindos com o capitalismo.

“Na Internet, não obstante, pode-se conhecer essa outra cara da moeda: um grupo de 300 romenos - os mais ricos -, tem atingido a espetacular cifra de mais de 33 bilhões de dólares, que representam 27% do PIB daquele país, segundo informou a revista Capital ‘Top 300’.

“Enquanto se contam aos milhões os que vivem abaixo da linha da pobreza, a nação do Leste Europeu tem um cidadão com uma fortuna calculada entre 3,1 bilhões e 3,3 bilhões de dólares. Seu nome é Dinu Patriciu, que recentemente vendeu uma parte da companhia petroleira Rompetrol ao grupo KazMunaiGaz, do Cazaquistão, por 2,7 bilhões de euros.” Quase 4 bilhões de dólares.

“Dinu destronou Iosif Constantin Dragan, que ficou relegado ao sétimo posto com um capital dentre 1,5 bilhão e 1,6 bilhão de dólares”, diz textualmente a publicação.

“Gigi Becali, dono do clube de futebol Steaua, tem a segunda maior fortuna, estimada entre 2,8 bilhões e 3 bilhões de dólares, que foi acumulada sobretudo no setor imobiliário.

“O ex-tenista e homem de negócios Ion Tiriac, o segundo homem mais rico em 2006, com ações na bolsa, seguros e automóveis, passou para o terceiro lugar com uma fortuna entre 2,2 bilhões e 2,4 bilhões de dólares”.

Até aqui é o que em forma detalhada informa Élson, na seção do Granma.

Lembremos todos que a Romênia era um país socialista, onde tinha petróleo e indústria petroquímica bastante desenvolvida, generoso solo e clima para a produção de alimentos protéicos e calóricos, para não citar outros ramos.

Tinha lá teóricos do acesso fácil aos bens de consumo, como os há em Cuba; ouvidos e olhos imperiais atentos a esses sonhos.

(...)

Se o império conseguisse obter de novo o controle de Cuba, não ficaria uma só das escolas de estudos superiores criadas pela Revolução para oferecer esse direito a todos os jovens; enviaria a maioria a cortar cana; é sua política declarada. Trataria de roubar os talentos artísticos e científicos já criados, como faz com os demais países de nosso hemisfério. Disponibilizar mais de 70 mil especialistas em Medicina Geral Integral e outras centenas de profissionais, ajudar a outros entre os mais pobres e exportar serviços, é um pecado que não pode tolerar de um povo do Terceiro Mundo.

Afinal de contas, temos resistido a seu bloqueio, suas agressões e seus brutais atos de terrorismo durante quase meio século.

Tive o privilégio de escutar importantes intervenções dos convidados latino-americanos e de outros países no VII Encontro Hemisférico de Luta contra os Tratados de Livre Comércio e pela Integração dos Povos. Dou-lhes obrigado por suas palavras solidárias e me junto a suas causas, que com tanto talento e coragem defendem. Formar consciência e mover politicamente às massas é uma grande consigna!

*Principais trechos da “Reflexão do Camarada Fidel”, de 10 de abril de 2008

Hora do Povo

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