Friday, June 15, 2007

“Bob Kennedy investigava a conspiração da CIA no assassinato de JFK”, revela Talbot



Em seu livro “Brothers”, o escritor norte-americano David Talbot relata investigações de Bob Kennedy sobre a participação da CIA junto com o “submundo de Miami de espiões, gangsteres e militantes cubanos” no assassinato de seu irmão. No artigo de Talbot, publicado no seu site salon.com, o autor destaca: “crescentes evidências comprovam que ele estava na trilha certa antes de também ser assassinado”

DAVID TALBOT

Um dos mais intrigantes mistérios sobre o assassinato de John F. Kennedy, o mais escuro dos labirintos americanos, é porque seu irmão Robert F. Kennedy aparentemente não fez nada para investigar o crime. Bobby Kennedy era, afinal, não apenas o secretário de Justiça dos Estados Unidos no momento do assassinato – ele era o parceiro mais devotado de seu irmão, o homem que recebeu as incumbências mais duras do governo, dos direitos civis ao crime organizado e Cuba, o mais quente ponto nevrálgico da Guerra Fria de então. Mas depois que os tiros no centro de Dallas em 22 de novembro de 1963 encerraram essa parceria única, Bobby Kennedy parecia perdido na perplexidade e luto, recusando-se a discutir o assassinato com a Comissão Warren e dizendo aos amigos que não tinha ânimo para uma investigação agressiva. “Que diferença isso faz?”, ele dizia. “Isso não o trará de volta”.
Mas Bobby Kennedy era um homem complexo, e seus anos em Washington o tinham ensinado a manter seu próprio escrutínio e a proceder de um modo subterrâneo. O que ele disse em público sobre Dallas não era a história completa. Privadamente, RFK – que tinha construído sua reputação nos anos 50 como um incansável investigador dos porões do poder americano – estava consumido pela necessidade de saber a verdadeira história sobre o assassinato de seu irmão. Este fervor o tomou na tarde de 22 de novembro, assim que o chefe do FBI J.Edgar Hoover, um implacável inimigo político, lhe telefonou para dizer – quase com prazer, pensou Bobby – que o presidente havia sido baleado. E a questão de quem matou seu irmão continuou a perseguir Kennedy até o dia que também ele foi abatido a tiros, em 5 de junho de 1968.
Por causa de seu pendor para operar em segredo, RFK não deixou um registro documentado de suas inquirições sobre o assassinato de seu irmão. Mas é possível retraçar sua trilha investigativa, começando na tarde de 22 de novembro, quando ele freneticamente fez telefonemas de Hickory Hill – sua mansão da era da guerra civil em McLean, Virginia – e convocou assessores e autoridades do governo para sua casa. Ligado pela claridade do choque e a eletricidade da adrenalina, Bobby Kennedy reconstruiu as linhas mestras do crime nesse dia – um crime, ele imediatamente concluiu, que ia muito além de Lee Harvey Oswald, o ex-marine de 24 anos preso pouco depois do assassinato. Robert Kennedy foi o primeiro teórico da conspiração de assassinato [de JFK] da América.
As fontes da CIA começaram a disseminar sua própria visão conspiratória do assassinato de Kennedy horas após o crime, enfocando a defecção de Oswald para a União Soviética e seu apoio público a Fidel Castro. Em Nova Orleans, uma organização de notícias anti-Castro divulgou uma gravação de Oswald defendendo o ditador barbudo. Em Miami, o Diretório dos Estudantes Cubanos – um grupo de exilados financiado secretamente por um programa da CIA de codinome Amspell – disse a repórteres sobre as conexões de Oswald com o Comitê por uma Relação Justa com Cuba, pró-Castro. Mas Robert Kennedy nunca acreditou que o assassinato fosse um complô comunista. Ao invés disso, ele olhou na direção oposta, focando suas suspeitas nas operações ocultas da CIA anti-Castro, um submundo obscuro que ele havia navegado como o ponta-de-lança de seu irmão quanto a Cuba. Ironicamente, as suspeitas eram compartilhadas pelo próprio Castro, a quem ele tinha buscado derrubar durante a presidência de Kennedy.
O que estava determinado é que o secretário de Justiça estaria no comando da guerra clandestina contra Castro – outra desgastante tarefa que JFK lhe deu, após a desastrosa performan-ce da agência de espionagem na Baía dos Porcos em abril de 1961. Mas conforme ele tentou estabelecer controle sobre as operações da CIA e juntar os turbulentos grupos de exilados cubanos numa frente progressista unificada, Bobby aprendeu que o mundo anti-Castro era um pântano de intrigas. Trabalhando a partir de uma ampla estação da CIA em Miami de nome em código de JM/WAVE, que era a segunda maior depois do QG em Langley na Virgínia, a agência havia recrutado um exército ilegal de militantes cubanos para lançar ataques contra a ilha e até mesmo contratou pistoleiros da Máfia para assassinar Castro – inclusive chefões como Johny Rosseli, Santo Trafficante e Sam Giancana, a quem, como chefe do Comitê do Senado sobre o sindicalismo amarelo no final dos anos 50, tinha investigado. Era um superaquecido ecossistema que estava unido não apenas por sua febril oposição ao regime de Castro, mas também pelo seu ódio pelos Kennedys, que eram vistos como traidores por falhar em usar o poderio militar total dos Estados Unidos contra o posto avançado comunista no Caribe.

O submundo de Miami

É nesse submundo de Miami de espiões, gângsteres e militantes cubanos que Robert Kennedy imediatamente lança suas suspeitas em 22 de novembro. Nos anos que se seguiram ao assassinato do próprio Robert Kennedy, um impressionante corpo de evidências se acumulou que indica porque Kennedy se sentiu compelido a olhar nessa direção. As evidências – testemunhos ao congresso, documentos governamentais desclassificados, mesmo confissões veladas – continuam a emergir até a data mais recente, embora largamente não noticiadas. A mais recente revelação veio de um espião legendário, E. Howard Hunt, antes de sua morte em janeiro. Hunt ofereceu o que pode ser o último testamento sobre o assassinato de JFK por alguém com conhecimento direto do crime. Em suas memórias póstumas publicadas recentemente, o espião americano Hunt especula que a CIA poderia ter estado envolvida no assassinato de Kennedy. E em anotações manuscritas e uma fita gravada que ele deixou, o espião foi mais longe, revelando ter sido convidado em 1963 para uma reunião em um esconderijo da CIA em Miami, em que um complô de assassinato foi discutido.
Bobby Kennedy sabia que ele e seu irmão tinham feito inimigos políticos além da conta. Mas nenhum era mais virulento do que o homem que trabalhou na operação da Baía dos Porcos e que acreditava que o presidente os havia apunhalado pelas costas, se recusando a salvar - e condenando a operação -, com o envio da Força Aérea dos EUA e dos Marines. Mais tarde, quando o presidente Kennedy encerrou a Crises dos Mísseis de Outubro de 1962 de Cuba sem invadir Cuba, esses homens viram não um estadista, mas outra crise de nervos. Na Miami cubana, eles falavam de la seconda derrota, a segunda derrota. Esses sentimentos anti-Kennedy, às vezes vociferados acaloradamente na cara de Bobby, ressoavam entre os parceiros da CIA na guerra secreta contra Castro – os chefões da Máfia que há muito reclamavam suas lucrativas franquias de jogo e prostituição em Havana, que tinham sido fechadas pela revolução, e profundamente prejudicados com a guerra sem quartel do Departamento de Justiça de Kennedy contra o crime organizado. Mas Bobby, o linha-dura que cobria o flanco direito de seu irmão na questão de Cuba, pensava que ele próprio tinha se tornado o principal pára-raios de toda essa eletrostática anti-Kennedy.
“Eu pensei que eles me pegariam, ao invés do presidente”, disse ele ao seu porta-voz do Departamento de Justiça, Edwin Guthman, conforme andavam de um lado para o outro no quintal de Hickory Hill na tarde de 22 de novembro. Guthman e outros em volta de Bobby nesse dia pensaram que “eles” poderiam vir em seguida atrás do Kennedy mais jovem. Ao que parece, também Bobby. Normalmente oposto a medidas rígidas de segurança – “os Kennedys não precisam de guarda-costas”, costumava dizer com a impetuosidade típica – ele permitiu que seus auxiliares chamassem os agentes federais, que rapidamente cercaram a casa.
Uma chocante irrupção
Entrementes, enquanto Lyndon Johnson – um homem com quem ele tinha notoriamente um relacionamento antagônico – voava para o leste de Dallas para assumir os poderes da presidência, Bobby Kennedy usava sua fugidia autoridade para desentocar a verdade. Após tomar conhecimento de que seu irmão tinha morrido no Hospital Parkland Memorial em Dallas, Kennedy telefonou para o QG da CIA, estrada abaixo em Langley, onde ele frequentemente começava seu dia, parando lá para trabalhar em questões ligadas a Cuba.
Pondo uma alta autoridade no telefone – cuja identidade ainda é desconhecida – Kennedy o confrontou numa voz vibrante de fúria e dor. “Seus esquadrões têm alguma coisa a ver com esse horror?”, explodiu Kennedy.
Naquele dia mais tarde, RFK convocou o próprio diretor da CIA, John McCone, para lhe perguntar a mesma questão. McCone, que tinha substituido o lendário Allen Dulles depois que o velho mestre da espionagem tinha sido forçado aandar na prancha por conta da Baía dos Porcos, jurou que sua agência não estava envolvida. Mas Kennedy sabia que McCone, um rico empresário republicano da Califórnia sem nenhuma experiência em espionagem, não tinha um firme domínio de todos os aspectos da atuação da agência. O verdadeiro controle sobre o serviço clandestino girava em torno do homem número 2, Richard Helms, o astuto burocrata cuja carreira de espionagem remontava às origens da agência no OSS na II Guerra Mundial. “Era claro que McCone estava fora do circuito – Dick Helms estava comandando a agência”, havia comentado recentemente o assessor de RFK, John Seigenthaler – outro repórter investigativo, como Guthman, a quem Bobby havia recrutado para sua equipe no Departamento de Justiça. “Qualquer coisa que McCone descobrisse era por acidente”.
Kennedy teve outra reveladora conversa por telefone na tarde de 22 de novembro. Falando com Enrique “Ruiz” Williams, um veterano da Baía dos Porcos que era o seu aliado mais confiável entre os líderes politicos exilados, Bobby chocou seu amigo ao lhe dizer diretamente, “foi um dos seus caras que fez isso”. O que Kennedy queria dizer? Por então Oswald tinha sido preso em Dallas. A CIA e seus grupos clientes anti-Castro estavam sempre tentando ligar o alegado assassino ao regime de Havana. Mas como os ásperos comentários de Kennedy para Williams deixam claro, o secretário de Justiça não ia cair nessa. Evidência recente sugere que Bobby Kennedy tinha ouvido o nome de Lee Harvey Oswald muito antes que explodiu no mundo inteiro pelos boletins de notícias, e ele ligou isso à guerra subterrânea contra Castro. Com Oswald preso em Dallas, Kennedy ao que parece compreendeu que a campanha clandestina contra Castro tinha se voltado, como um bumerangue, contra seu irmão.
A conexão de Chicago

Naquela tarde, Kennedy mirou a Máfia. Ele telefonou para Julius Draznin em Chicago, um especialista do Escritório Nacional de Relações Trabalhistas em corrupção em sindicatos, pedindo-lhe para procurar por uma possivel relação da máfia em Dallas. Mais importante, o secretário da Justiça acionou Walter Sheridan, seu principal investigador do Departamento de Justiça, localizando-o em Nashville, onde Sheridan estava esperando pelo julgamento do seu nêmesis de muito tempo, o líder dos caminhoneiros Jimmy Hoffa. Se Kennedy tinha qualquer dúvida sobre o envolvimento da Máfia na matança de seu irmão, ela rapidamente desapareceu quando, dois dias após JFK ter sido abatido a tiros, o proprietário de um grotesco clube noturno, Jack Ruby, abriu seu caminho entre os reporteres no porão da estação de polícia de Dallas e disparou sua bala fatal contra Lee Harvey Oswald. Sheridan rapidamente obteve evidências de que Ruby havia sido pago em Chicago por um colaborador próximo de Hoffa. Sheridan reportou que Ruby “tinha pego um monte de dinheiro com Allen M. Dorfman,” o conselheiro chefe de Hoffa no Fundo de Pensões e Empréstimos dos Caminhoneiros e enteado de Paul Dorfman, o chefão sindical que era o principal vínculo com a máfia de Chicago. Poucos dias mais tarde, Draznim, o principal homem de Kennedy em Chicago, conseguiu evidências adicionais sobre o histórico de Ruby como cobrador da máfia, providenciando um detalhado relatório das atividades de Ruby de extorsão dos sindicatos e sua propensão pela violência armada. Os registros telefônicos posteriores de Jack Ruby ligavam-no mais ainda ao caso Kennedy. A lista dos homens a quem Ruby telefonara por volta da hora do assassinato - disse RFK mais tarde ao assessor Frank Mankiewicz - era “quase uma cópia do pessoal que eu chamei para testemunhar perante do Comitê sobre o crime organizado”.

Mensagem a Moscou

Conforme os membros da família e amigos íntimos se reuniram na Casa Branca no fim de semana após o assassinato para o funeral do presidente, um sentimento envolvido num rouco lamento irlandês tomou conta da mansão executiva. Mas Bobby não participou na dolorosa tradição da família. Recurvado e sem dormir ao longo do fim de semana, ele meditou sozinho sobre o assassinato de seu irmão. De acordo com uma narração de Peter Lawford, o ator e cunhado de Kennedy que estava lá naquele fim de semana, Bobby disse aos membros da família que JFK tinha sido morto por um complô poderoso que cresceu em meio às operações secretas anti-Castro do governo. Não havia nada que eles pudessem fazer naquele ponto, Bobby acrescentou, já que eles estavam enfrentando um inimigo formidável e eles não mais controlavam o governo. A Justiça teria de esperar até que os Kennedys pudessem retomar a Casa Branca – isso se tornou o mantra de RFK nos anos depois de Dallas, sempre que seus companheiros urgiam que ele falasse sobre o misterioso crime.
Uma semana após o assassinato, Bobby e a viúva de seu irmão, Jacqueline Kennedy – que compartilhava as suspeitas dele sobre Dallas – enviaram uma surpreendente mensagem secreta a Moscou através de um emissário de confiança da família, de nome William Walton. O discreto e leal Walton “era exatamente a pessoa que você poderia escolher para uma missão como essa,” observou mais tarde seu amigo Gore Vidal. Walton,um correspondente de Guerra da revista Time que se reinventou como um gay boêmio de Georgetown, tinha crescido junto tanto de JFK quanto de Jackie nos dias tranquilos antes que se mudassem para a Casa Branca. Mais tarde, o primeiro casal deu-lhe um papel não-pago no governo, indicando-o presidente da Fine Arts Comission, mas isso era principalmente uma desculpa para fazer dele um convidado freqüente da Casa Branca e um confidente.
Após o assassinato de JFK, o irmão do presidente e sua viúva pediram a Walton para seguir em frente, como planejado, com uma viagem de intercâmbio cultural à Rússia, onde ele deveria encontrar artistas e ministros, e transmitir uma mensagem urgente ao Kremlin. Logo depois de chegar à fria Moscou, lutando contra uma gripe e assoando o nariz com um lenço vermelho, Walton se encontrou no ornado restaurante Sovietskaya com Georgi Bolshakov – um agitado e rechonchudo agente soviético com quem Bobby tinha estabelecido em Washington um canal confidencial de relacionamento. Walton deixou o russo atônito ao lhe dizer que os Kennedys acreditavam que Oswald era parte de uma conspiração. Eles não achavam que nem Moscou nem Havana estavam por trás do complô, Walton assegurou a Bolshakov – era uma grande conspiração doméstica. O irmão do presidente estava determinado a entrar na arena política e eventualmente concorrer à Casa Branca. Se RFK tivesse sucesso, Walton confidenciou, ele retomaria a missão de seu irmão por uma détente com os soviéticos.
A extraordinária comunicação secreta de Robert Kennedy com Moscou mostra quão emocionalmente alquebrado ele deve ter estado nos dias que se seguiram ao assassinato de seu irmão. A calamidade o transformou instantaneamente de um insider abrasivo e confiante – o segundo homem mais poderoso em Washington – para um outsider profundamente cauteloso e afligido pelo pesar, que tinha mais confiança no governo soviético do que no seu próprio. A missão de Walton ficou perdida para a história. Mas é mais uma reveladora narrativa que lança luz sobre a vida subterrânea de Bobby Kennedy entre o assassinato de seu irmão e seu próprio fim violento menos de cinco anos mais tarde.
Ao longo dos anos, Kennedy ofereceria um insípido e rotineiro endosso do Relatório Warren e sua teoria do atirador solitário. Mas privadamente ele repeliu o relatório como nada mais que um exercício de relações públicas voltado para tranquilizar o público. E por trás da cena, ele continuou a trabalhar assiduamente para desvendar o assassinato de seu irmão, em preparação para a reabertura do caso se ele chegasse a ganhar o poder para fazê-lo.
Bobby guardou evidências médicas da autópsia de seu irmão, incluindo o cérebro de JFK e amostras dos tecidos, que poderiam se provar importantes em uma investigação futura. Ele também considerou se apossar da limousine presidencial manchada de sangue e recheada de balas que tinha conduzido seu irmão em Dallas, antes que o Lincoln negro pudesse ser limpo de evidências e reparado. Ele recrutou seu investigador-chefe, Walt Sheridan, para sua busca secreta – o ex-agente do FBI e camarada católico irlandês que Bobby chamava de seu “anjo vingador”. Mesmo depois de deixar o Departamento de Justiça em 1964, quando foi eleito senador por Nova Iorque, Kennedy e Sheridan davam uma escapada ali volta e meia, para esmiuçar arquivos sobre o caso. E logo depois de sua eleição, Kennedy viajou para a Cidade do México, onde juntou informações sobre a misteriosa viagem de Oswald para lá em setembro de 1963.
Em 1967, Sheridan foi a Nova Orleans checar a investigação de Jim Garrison, para ver se o estravagante promotor realmente tinha desvendado o caso JFK. (Sheridan estava trabalhando com produtor de noticiário da NBC naquele tempo, mas ele retornou a RFK, dizendo-lhe que Garrison era uma fraude). E Kennedy pediu a seu secretário de imprensa, Frank Mankiewickz, para começar a colher informação sobre o assassinato para o dia em que eles pudessem reabrir a investigação. (Mankiewickz mais tarde disse a Bobby que sua pesquisa o levara a concluir que fora provavelmente um complô envolvendo a máfia, exilados cubanos e agentes renegados da CIA.) O próprio Kennedy achou doloroso discutir teorias conspiratórias com os ardentes pesquisadores que o buscavam. Mas ele se encontrou no seu gabinete de senador com pelo menos um – um editor de jornal de uma pequena cidade do Texas, de nome Penn Jones Jr., que acreditava que JFK tinha sido vítima de um complô da CIA-Pentágono. Bobby o escutou e depois mandou seu motorista levar Jones até o Cemitério de Arlington, onde este queria visitar o túmulo de seu irmão.
Bob na corda-bamba

Às vezes, esse esforço para saber a verdade viria à tona em sua fala por vezes acelerada, conforme Robert Kennedy lutava com a debilitante dor e o sentimento de culpa de que ele – o vigia constante de seu irmão – deveria tê-lo protegido. E, sempre cauteloso, Bobby continuou a desviar do tema sempre que era confrontado com ele pela imprensa. Mas conforme o tempo passou, tornou-se crescentemente dificil para Kennedy evitar a luta com o espectro da morte de seu irmão em público. No final de março de 1968, durante sua heróica e condenada disputa pela presidência, ao comparecer a uma tumultuada manifestação no lado de fora do campus de Northridge, Califórnia, quando alguns impetuosos estudantes começaram a gritar a questão que ele sempre temera “Queremos saber quem matou o presidente Kennedy!”, proclamou uma jovem, enquanto outros começaram a gritar: “abram os arquivos!”.
A resposta de Kennedy nesse dia foi uma caminhada na corda-bamba. Ele sabia que se ele revelasse plenamente o que pensava sobre o assassinato, a gritaria da mídia que se seguiria teria dominado sua campanha, ao invés de questões candentes como dar fim à Guerra do Vietnã e abolir as divisões raciais do país. Para um homem como Robert Kennedy, você não trata de algo tão terrível e obscuro como o assassinato do presidente em público – você investiga o crime do seu próprio modo.
Mas Kennedy respeitava os estudantes universitários e suas paixões – e ele tinha o hábito de se dirigir às audiências nos campus com surpreendente honestidade. Ele não quis simplesmente se desviar da pergunta nesse dia com seu comportamento padrão. Então, embora cumprindo a obrigação de endossar o Relatório Warren como sempre fazia, ele foi além. “Vocês querem me perguntar sobre os arquivos”, ele respondeu. “Eu estou certo, como lhes disse antes, que os arquivos serão abertos.” A multidão saudou e aplaudiu. “O que eu posso dizer”, continuou Kennedy, “e eu já respondi essa pergunta antes, é que não há ninguém mais interessado em todas essas questões de quem foi responsável pela, uhm, uhm, a morte do presidente Kennedy, que eu.” O secretário de imprensa de Kennedy, Frank Mankiewickz, há muito acostumado a ver Kennedy driblar a pergunta, ficou “atônito” com a resposta. “Foi como se ele de repente tivesse deixado escapar a verdade, ou um modo de encerrar qualquer questiona-mento posterior. Você sabe, ´Sim, eu reabrirei o caso. Agora vamos seguir em frente”.
Robert Kennedy não viveu o bastante para elucidar o assassinato de seu irmão. Mas quase 40 anos após seu próprio assassinato, um crescente corpo de evidências sugere que Kennedy estava na trilha certa antes que também ele fosse abatido. Apesar de suas contorções verbais em público, Bobby Kennedy sempre soube que a verdade sobre Dallas importava. Ainda importa.

Danny Glover : “Bush conseguiu unir contra ele conservadores e liberais”



Reproduzo abaixo entrevista do ator e diretor Danny Glover, feita pela jornalista cubana Rosa Miriam Elizalde, em Caracas
ROSA MIRIAM ELIZALDE*
Quase dois metros de estatura, a figura atlética e um vigor que nem remotamente se aproxima ao que esperamos encontrar em um homem que já completou os 60 anos. Ao escutá-lo falar, não duvidamos que estamos diante de um líder apaixonado pelos direitos civis nos Estados Unidos e um respeitado embaixador da boa vontade da UNICEF, que esteve em missões contra a pobreza no Egito, Haiti, Mali, Namíbia, Senegal e África do Sul, mas suas palavras não encaixam com o estereótipo de uma celebridade de Hollywood.
É difícil imaginar o policial de “Máquina Mortífera” e o marido violento de Cellie, a protagonista de “A Cor Púrpura”, encarnado no homem real que de pronto pede a palavra, humildemente, da platéia onde assiste às Jornadas Internacionais da TeleSul. Fala pouco e claro: “O tema do controle dos meios de comunicação e a participação democrática neles, não está na agenda de debate nos Estados Unidos. Meu governo sempre trata de aplacar qualquer tipo de resistência dentro e fora do meu país e essa postura tem um impacto direto nos meios de comunicação que promovem a guerra e a desinformação”.
Depois, o que queremos é conhecer melhor este ator e diretor de cinema norte-americano, que não dissimula sua simpatia pela Revolução bolivariana e cubana.
Com Danny Glover não existem formalidades, nem poses de estrela. Está como poderia estar qualquer um de nós, com jeans e um boné, só e meio perdido a um passo do Teatro Teresa Carreño, em Caracas, e simplesmente sorri e diz sim quando lhe peço esta entrevista.
Rosa - Porque Danny Glover é como é? Como foi educado?
Danny Glover - Sou herdeiro do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, que surgiu no país depois da Segunda Guerra Mundial. Nasci com o impulso da transformação social que significou esse movimento, similar a outros que emergiram naquela época, como a defesa da identidade social, da liberdade nacional e a resistência ao colonialismo. Sou filho dessa experiência.
Desde jovem tratava de entender as circunstâncias que me rodeavam: a democratização da sociedade, a luta por justiça para os trabalhadores, a chegada da televisão, o ambiente liberal de São Francisco, a história recente do movimento operário nessa cidade, que herdamos...
Minha vida está marcada pelo grande líder do sindicato dos estivadores, Harry Bridges, um trabalhador imigrante australiano que organizou em 1934 uma greve que durou 83 dias e paralisou São Francisco. Ele conquistou, entre outras coisas, a incorporação dos estivadores afro-americanos ao trabalho nas docas. Bridges era socialista. São Francisco tinha um dinamismo social que posteriormente penetrou no resto do país.
Tudo isso me influenciou desde jovem e esse era o ambiente nas escolas onde estudei. Primeiro, em uma escola pública de São Francisco, logo no City College e, depois, em São Francisco State College, onde me envolvi ativamente no movimento “Black Power” e nas lutas do movimento estudantil. Por isso Danny Glover é como é.
R - Você foi um dos líderes da greve estudantil mais longa da história dos Estados Unidos. Porque organizaram a greve? Conquistaram o que queriam?
D G - Certo. Fui um dos líderes do “Black Student Union”, em 1968, a organização que obrigou a Universidade Estadual de São Francisco a constituir uma faculdade para os Estudos Étnicos. A greve que organizamos foi tão forte, que no verão de 1969 me acusaram de dirigir uma suposta conspiração para levantar motins. Posteriormente me declararam culpado de coisas mais leves, mas me processaram penalmente.
Me marcou para sempre a orientação comunitária que formou parte da experiência que tivemos na Universidade Estadual de São Francisco. O Black Panther Party (Partido Panteras Negras) também me marcou, como o movimento de solidariedade internacional.
Era a época da Guerra do Vietnã, do Che no Congo e na Bolívia. Não estávamos à margem do que ocorria fora dos Estados Unidos e líamos tudo: Marx, Mao, Julius Nyrere, Francis Nkrumah. Além dos estudos, pertencíamos a um grupo de estudantes que sentíamos que tínhamos uma missão a cumprir na sociedade. Não tínhamos nos matriculado para estudar comércio. Nosso propósito era utilizar a luta universitária para transformar nossa comunidade. Éramos negros, latinos, e brancos, membros ou não dos Panteras Negras e do movimento “Brown Berets, dos chicanos. Juntos nos declaramos em greve para incorporar ao currículo da universidade o centro de estudos étnicos. Exigíamos o estudo de nossa verdadeira história, conhecer e resgatar as contribuições dos negros, dos latinos, e dos pobres dos Estados Unidos. Também nos declaramos em greve em solidariedade aos estudantes parisienses de 1968.
Tivemos êxito. Conquistamos, com o grande apoio comunitário, a criação do primeiro centro de estudos étnicos dos Estados Unidos.
FAMÍLIA
R - Que influência teve a sua família na formação da sua perspectiva política?
D G - Meu pai, James Glover, era de Kansas City. Minha mãe, Carrie Hunley, da Geórgia rural. O fim da Segunda Guerra Mundial os levou a São Francisco e formaram parte dessa geração muito politizada pelos sindicatos. Eram empregados do Correio Nacional e membros do sindicato dos trabalhadores dos correios. Descobri a Revolução Cubana quando me inteirei de que o sindicato de meus pais a apoiava. O presidente do sindicato em São Francisco, David Johson, usava uma boina como a de Fidel. Dizíamos “Little Fidel” (pequeno Fidel). Isso me mostrou muito sobre o que estava havendo em Cuba.
Eu tinha só 8 anos quando aconteceu o boicote dos ônibus de Montgomery, Alabama, o movimento iniciado por Rosa Parks, a mulher que se negou a aceitar a segregação racista no transporte coletivo. Vi pela primeira vez os negros na televisão que se transformavam em verdadeiros instrumentos de troca. Posso dizer que as experiências definitivas de minha vida foram minha infância em Haight Ashbury, São Francisco, e meus pais, o sindicato, a luta estudantil. Sobre esse mundo se construiu minha consciência social.
O ALGODÃO
R - Como fez sua família para enfrentar uma sociedade profundamente discriminatória?
D G - Não podemos separar a vida particular do povo norte-americano de sua história. Nem tampouco a história do povo. Há um fato importantíssimo que quase nunca se leva em conta: a máquina para recolher algodão foi inventada em 1944. Até então, todo o algodão era colhido a mão, só em 1965 que 100% do algodão passou a ser recolhido a máquina. Significou uma transformação enorme nas vidas das pessoas que colhiam o algodão a mão.
Minha avó teve um pressentimento da importância dessa transformação e incorporou a palavra “educação” como parte essencial de seu vocabulário. Seus filhos foram à escola, caminhando dez milhas todos os dias e vestidos com roupas feitas de fronhas de travesseiros, mas foram à escola.
Minha mãe sempre me dizia que a questão central de sua infância havia sido não estar obrigada a colher algodão em setembro, como todas a mulheres da família. Foi nossa verdadeira “Declaração de Emancipação de todos os escravos”. Já a havia feito Abraham Lincoln, em 1863, mas foi significativo para os negros estadunidenses quando apareceu a máquina do algodão. Foi o marco da vida de minha mãe, seu imperativo moral. De alguma maneira isso a levou a participar no Conselho Nacional de Mulheres Negras e no sindicato de trabalhadores do correio.
R - O que mudou para um menino negro de hoje em relação ao que foi sua infância?
D G - Hoje não existe o racismo deslavado de ontem. Pelo menos não é tão óbvio. A segregação que tanto desumaniza não é tão aberta. É inegável que tivemos algumas vitórias. No entanto, 70% das crianças negras ainda estudam em escolas segregadas, mesmo depois do caso de Brown of Education, de 1954, que levou a Corte Suprema a declarar inconstitucional a segregação nas escolas.
Quando eu era criança, as escolas públicas da Califórnia estavam incluídas entre as 5% melhores da nação. Agora estão entre as piores. Na minha infância havia mais unidade entre os negros e outras minorias marginalizadas dentro da comunidade. Agora não é tão assim.
HOMENAGEM AOS ESPÍRITOS
R - Falemos do filme que você dedicará a Toussaint-Louverture, com a colaboração da Venezuela, que tem gerado tanta polêmica.
D G - A película narrará a vida do líder que inspirou a revolução dos escravos em 1791, da qual surgiria posteriormente o Haiti. É uma co-produção internacional, que ajudará o cinema venezuelano. O que for arrecadado com os ingressos do filme será utilizado para construir certa capacidade de produção cinematográfica na Venezuela. Uma relação de trabalho que ajudará a gerar empregos e ajudará as comunidades.
R - É verdade que este filme é também uma homenagem a sua bisavó?
D G - Minha bisavó nasceu em plena escravidão. O filme, se é uma homenagem a alguém, é a ela e a todos os espíritos que resistiram à opressão ao longo da História.
R - Que relação pode existir entre o Danny Glover de “Máquina Mortífera” e o de Toussaint-Louverture?
D G - É o mesmo Danny Glover, que sempre trata de fazer filmes com certo valor social. Não invalido nenhum de meus filmes. Todos são parte desse processo. “Máquina Mortífera” é único e especial, particularmente a segunda parte, que aborda o tema do apartheid. Não é por acaso que o governo da África do Sul o tenha censurado.
R - Tem alguma esperança de que finalmente o governo do seu país se retire do Iraque? Como pensa que terminará essa história?
D G - Sinto muita dor pelos milhões de iraquianos, cujas vidas têm sido afetadas por esta guerra desnecessária. Também pelas mais de 3 mil famílias estadunidenses que perderam absurdamente um ente querido. Não creio que a intervenção militar de Washington no Iraque acabe logo. Honestamente, não percebo uma transformação na política exterior do meu país no futuro próximo.
R - Na Jornada Internacional da TeleSul você falou da manipulação midiática da administração Bush e citou como exemplo que não havia informação sobre a proposta de Cuba de enviar médicos para atender aos afetados pelo furacão Katrina. Porque ocorreu isso?
D G - O Katrina abriu um precedente muito perigoso nos Estados Unidos. Veja o plano que o governo realizou como resposta à tragédia. Nova Orleans era uma cidade construída pelos pobres e os negros do país, profundamente marginalizados pelo governo e a infra-estrutura econômica da cidade. O Katrina chegou a uma cidade já marginalizada. A resposta do governo foi aproveitar-se da desestabilização que ocorreu depois do Katrina, que é filha dos problemas sociais que já existiam desde antes, agravados logicamente depois do desastre. Que fez o governo? Decidiu filtrar quem regressa ou não a Nova Orleans, e iniciar uma mudança na população que garanta à direita estadunidense exercer o controle político, cultural e social de uma região sumamente conflituosa para eles. É terrível.
O absurdo rechaço aos 1500 médicos cubanos com experiência em assistência à populações em situação de catástrofe reflete a falta de verdadeiro interesse para atender às necessidades dos negros e dos pobres da cidade. Não querem salvá-los, mas despojá-los do que for possível, desaparecer com eles, como está ocorrendo em Nova Orleans. Isto é uma mostra do que está ocorrendo em todas as cidades do país.
R - Você apóia John Edwards para presidente. Que tipo de presidente seria ele?
D G - Não sei, francamente, mas ao menos ele fala sobre algumas coisas que têm impacto em nossas vidas, como por exemplo as diferenças sociais nos Estados Unidos. Me interessa tudo que pudermos construir dentro e fora do Partido Democrata.
R - Como você avalia o lugar do presidente Bush na história dos Estados Unidos?
D G - Aconteceu um milagre. Hoje, os conservadores têm a mesma opinião sobre Bush que os liberais . Se deram conta de que quem dá crédito ao presidente e menciona seu nome, não fala de coisas que verdadeiramente valem a pena.
* É autora dos livros “Chaves Nuestro” e “Los Disidentes” (os dois com o também jornalista Luis Báez) e diretora de redação do site Cubadebate

“Veja” defende a pureza ideológica do marxismo

Hoje, senhores leitores, começaremos por um teste. Pedimos que leiam o seguinte trecho: “Karl Marx foi um pensador profundo e complexo que tirou a filosofia das nuvens e a colocou no mundo real. (....) Reduzir Marx ao esquerdismo de botequim que se nota em alguns livros e apostilas é uma ofensa ao filósofo alemão e um desserviço à educação dos jovens brasileiros”. Quem acertar qual foi o comunista que escreveu isso, ganhará uma viagem turística ao Bronx, bucólico bairro de Nova Iorque onde a vida é um eterno dia de São Cosme e Damião - bala pra todo mundo, não precisa nem ir atrás.
Não conseguiu descobrir? Ainda bem, leitor. Você acabou de se livrar do Bronx e ainda ficamos sabendo que não é leitor da “Veja”. Como? Sim, minha senhora, o trecho é da “Veja”, esse bastião da pureza ideológica do marxismo, na qual ficamos sabendo que Marx foi um “rigoroso filósofo alemão”; que “criticar o capitalismo é saudável”; e que os “dogmas e simplificações” são características do “marxismo vulgar”.
CRÍTICA
Entre um e outro curso de formação marxista na CIA, o Bob Civita comoveu-se com o drama de uma “dona de casa” escandalizada com o que leu nas apostilas do colégio de sua filha. É verdade que levou 9 anos para isso, desde que a filha entrou nesse colégio. Por sinal, uma dona de casa que se intitula “marxista desiludida”, o que só significa que ela confundia suas ilusões com o marxismo. Pelo seu retrato, a “dona de casa” em questão corre o risco de temperar o feijão com Chanel Nº 5 ou preparar vinha-d’alho com Chateau Dufort-Vivens, safra 1885, vinho que custa uns 15 ou 20 mil reais a garrafa...
Indignado com a deturpação do marxismo, o Civita encomendou uma crítica ao perigoso revisionismo das apostilas feitas pelo grupo COC, de Ribeirão Preto, São Paulo. Há alguns meses, ele arranjou um historiador da Universidade do Texas para fazer considerações sobre o capitalismo da Grécia no ano V a.C. Agora, a autora da contribuição crítica ao revisionismo só pode ser uma discípula daquele imbecil. Também convocou o sr. Roberto Romano, com seu pedantismo asinino, para falar do “emburrecimento dos jovens”. Sem dúvida, ele só não é especialista no assunto porque é muito chato. Não há jovem que agüente...
Mas, se os trechos que “Veja” reproduz são representativos do material do COC, essas apostilas são muito boas. Portanto, pessoal do COC, parem com esse negócio de mudar as apostilas. Nada de puxar o saco da “Veja”, pois o que ela está querendo é que vocês mudem o que está certo, não o que está errado. É só ler algumas pérolas do marxismo ortodoxo de “Veja”:
1) “A escravidão no Brasil é justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado como animal, pois era ‘desprovido de alma’ (...). Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira?”. Comentário de “Veja”: a Igreja já era, então, contrária à escravidão. O papa Paulo III escreveu, em 1537: “Ninguém deve ser reduzido à escravidão”.
O comentário de “Veja” é de uma ignorância crassa nos fatos históricos mais elementares. A Igreja condenou oficialmente a escravização dos índios no século XVI. Mas somente em 1839 ela condenaria a escravidão dos negros, através de uma bula do papa Gregório XVI. Declarações de alguns papas (Pio II, Paulo III, Urbano VIII) contra a escravidão negra jamais mudaram, durante 4 séculos, a posição da Igreja, estabelecida nas bulas de Eugênio IV, Nicolau V, Calisto III, Sisto IV e Inocêncio VIII. Se no caso dos índios argumentava-se que eles só se converteriam ao catolicismo se não fossem escravos, no caso dos negros a argumentação é que a conversão somente seria possível se eles fossem escravos.
2) “A dissolução das comunidades neolíticas, como também da propriedade coletiva, deu lugar à propriedade privada e à formação das classes sociais, isto é, a propriedade privada deu origem às desigualdades sociais (...).” (Capítulo “A pré-história”, pág. 103 da apostila do COC). Comentário da “Veja”: o conceito de “classes sociais” não se aplica a uma sociedade organizada em clãs. As desigualdades subsistem desde que a humanidade vivia da caça, da pesca e da coleta.
O comentário de “Veja” é coisa de idiota, além do mais, pedante. A apostila não se refere a “uma sociedade organizada em clãs”, mas, exatamente, à dissolução dessa sociedade (“dissolução das comunidades neolíticas”), e à sociedade de classes que resultou dessa dissolução, após a substituição da propriedade coletiva pela propriedade privada dos meios de produção. É evidente que antes da existência de classes havia desigualdades. O homem e a mulher, por exemplo, já naquela época não tinham a mesma anatomia. Mas a apostila se refere a “desigualdades sociais”, ou seja, desigualdades de classe, que, naturalmente, só podiam existir depois do aparecimento das classes sociais. Que a empregada do Civita não entenda chongas de marxismo, vá lá. Mas seria bom que aprendesse a ler.
DESCONHECIDO
3) “O surgimento da propriedade privada dos meios de produção (...) provocou, na Grécia, a formação da sociedade de classes organizada sob a cidade-estado.” (Capítulo “O período arcaico”, pág. 128 da apostila do COC) Comentário de “Veja”: as classes na Grécia antiga eram determinadas pela ascendência dos cidadãos – e não por sua riqueza.
O filho do Rockefeller é tão burguês quanto o pai. O filho do Victor Civita, o Bob, é da mesma classe que o pai. Mas seria de um ridículo atroz dizer que no capitalismo as classes sociais são determinadas “pela ascendência”. É evidente que as classes são formadas por indivíduos e que estes indivíduos se reproduzem. As classes na Grécia eram determinadas pela propriedade (ou não) dos escravos, da terra e dos demais meios de produção. Puxar o saco do patrão, que herdou aquela fortuna toda “pela ascendência”, não faz parte do marxismo. E as classes também não são determinadas “por sua riqueza”, ainda que os proprietários dos meios de produção sejam mais ricos do que os não proprietários. É a classe a que se pertence que determina a riqueza (ou pobreza), e não a riqueza (ou pobreza) que determina a classe. Só um asno (ou uma asna) para trocar as bolas nessa questão. Além do que, é possível ser rico e ser um desclassificado: se as classes sociais fossem determinadas “por sua riqueza”, Al Capone seria um representante da burguesia norte-americana. No entanto, era apenas um marginal.
O que mais escandalizou a “dona de casa” e a “Veja” não foi um texto histórico nem marxista, mas um texto literário, “Como se conjuga um empresário”. O autor é Mino, descrito por “Veja” como um “desconhecido escritor cearense”. Pode ser desconhecido para as bestas que compõem a corte do Civita, que adoram colocar nas alturas qualquer mediocridade, contanto que seja americana. Mino foi colaborador do “Pasquim” e até fez umas vinhetas para a Globo. Trata-se de um talentoso pintor, chargista, cartunista, humorista e escritor da terra de José de Alencar e Clóvis Monteiro - avô do nosso editor-chefe. Não é a primeira vez que Mino é vítima da burrice. Deve ser o único escritor que perdeu o sobrenome devido à censura daquela ditadura da qual o pai do Bob era expoente. Os censores acharam que Mino Castelo Branco só podia ser gozação com o Castelo Branco que havia assumido o poder com o golpe de 64. Não houve jeito de convencê-los de que esse era mesmo o seu sobrenome. Nem com a carteira de identidade na mão...
CARLOS LOPES

Friday, June 08, 2007

Por que a Globo é golpista


No artigo abaixo, publicado originalmente pela Agência Carta Maior, o professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, Gilson Caroni Filho, alerta que a mesma Rede Globo que vaticina hipocritamente contra uma suposta “censura” do presidente Hugo Chávez contra a RCTV, ignora solenemente o papel da emissora quando o líder venezuelano foi deposto pelo golpe patrocinado pela CIA em abril de 2002.
GILSON CARONI Fº
Seria pueril, se não fosse ameaçador. Seria mais um inusitado registro do teatro do absurdo, com sua habitual ironia, se não se tratasse de texto jornalístico sobre uma emissora que teve papel central na história recente da Venezuela. Mas Déborah Thomé, interina da coluna “Panorama Econômico”, do Globo, foi de um didatismo exemplar na edição de terça-feira, 7/5.
Para ela, “Chávez acusa o canal de ter participado da tentativa de golpe em 2002 - acusação, aliás, verdadeira, mas que não justifica tal medida censora”. Ao que parece, uma emissora televisiva não só se autonomiza do poder concedente como a ele se sobrepõe. Esse é o pilar da democracia admitida pela família Marinho.
Melhor, impossível. Mais que um deslize de estilo, estamos diante da reiteração de política editorial. A jornalista mostra que aprendeu o receituário da corporação que lhe paga o salário. Um arrazoado onde os princípios democráticos (igualdade, diversidade e participação), por não serem compatíveis com organizações monopolísticas e a otimização de seus ganhos, devem ser relativizados, a ponto de um golpe de Estado ser um pecado menor.
A decisão do presidente Hugo Chávez de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RTVC) é respaldada por preceitos constitucionais e os procedimentos administrativos realizados, em momento algum, feriram os princípios básicos do Estado Democrático de Direito. Mas a doxa midiática é samba de uma nota só: a cada movimento, segundo articulistas e editores, o presidente venezuelano se afasta da democracia. Será mesmo? Não é o caso de questionarmos a narrativa dominante com fatos históricos recentes? E à luz dos cenários que se abrem, indagar: quem são, efetivamente, os golpistas da América Latina?
Nesse quadro cabe, também, perguntar aos altos cargos das Organizações Globo: o Brasil, no campo jornalístico, seria substancialmente distinto da Venezuela? Em um país onde a imprensa sempre endossa retrocessos políticos, o que esperar dos barões da mídia em caso de mudanças efetivas? Abririam mão do projeto autoritário de serem a únicas instâncias de intermediação entre Estado e sociedade? Aboliriam a semântica que define como populista quem não se submete aos ditames do mercado? Deixariam de condenar qualquer tentativa de comunicação direta com as massas? Ao fazê-lo, removeriam a confusão deliberada entre manifestação carismática e demagogia de algibeira?
Ora, não há inocentes: a mídia, tal como estruturada hoje, é incompatível com uma institucionalidade que não seja moldada aos seus interesses político-empresariais. A lógica, repetimos, que maximiza seus lucros não sobrevive sem déficit democrático. O espetáculo abomina a práxis. E a Globo tem horror à democracia.

Muitas similitudes

A manutenção do sistema de alianças que assegura a ordem vigente é a principal tarefa do sistema comunicacional. Em caso de crise aguda, a “nossa Venezuela” aflora rapidamente. Ou alguém acha que a ação da mídia venezuelana na tentativa de deposição de Hugo Chávez, em abril de 2002, é algo restrito à fragilidade institucional daquele país?
Quem assistir ao documentário A Revolução não Será Televisionada, filmado e dirigido pelos irlandeses Kim Bartley e Bonnacha O’Brien, verá que há mais similitudes entre Caracas e Brasília do que imagina um editorialista da Globo. As cruzadas das emissoras Venevisión, Globovisión e RCTV são assustadoramente familiares.
As imagens, usadas como justificativa para o golpe, de um grupo de militantes chavistas supostamente atirando em manifestantes numa ponte, são emblemáticas. A edição ampliada mostra o oposto: os apoiadores do presidente respondem ao fogo de franco-atiradores que disparavam contra a multidão. Mantidas as proporções, não há como não lembrar das trucagens empregadas pela TV Globo, após o atentado ao Riocentro, em 1981. No Jornal Nacional, uma das bombas mostradas no carro dos militares no telejornal da tarde sumiu. E, até hoje, ninguém sabe, ninguém viu.
Quando as multidões foram às ruas exigir o retorno de Chávez ao poder, as empresas golpistas ignoraram as manifestações. Quem viveu a ditadura militar sabe da capacidade da emissora monopolista de promover extermínios imagéticos de grande escala. Claro que, ao contrário de vários articulistas, não confundo formações sociais distintas.
Brasil e Venezuela têm conjuntos históricos intransferíveis, relações de poder matizadas por clivagens completamente diferentes, mas em três coisas se assemelham: no grau de exclusão, na truculência de suas classes dominantes e na capacidade de prestidigitação de seus aparelhos ideológicos. Os franco-atiradores antidemocráticos são os agendáveis dos conceituados colunistas tanto aqui como lá
Mas quem pensa que a solidariedade se esgota aqui, está redondamente enganado. Se voltarmos no tempo, veremos que a Globo comemorou a tentativa de deposição de Chávez. Não houve análise, houve regozijo. Para os que suspeitam que fazemos ilações quando falamos da vocação golpista do canal cevado na ditadura militar, reproduziremos, tal como fizemos há 5 anos, o que disseram três profissionais da emissora, no dia 12/4/2002. Quem assistiu aos telejornais da Globo teve uma bela aula do papel da mídia como “ alicerce da democracia”. Os que não assistiram terão as evidências empíricas que tanto reclamam.
Hugo Chávez havia sido deposto e o poder entregue ao empresário Pedro Carmona, presidente da entidade patronal Fedecámaras. Era o suposto fim de mais um governo que fez da soberania nacional seu projeto. Da América Latina, sua prioridade. E que, encarnando aquilo que Gramsci chamaria de “cesarismo progressivo”, pôs no lixo da história as agremiações tradicionais (Ação Democrática e Copei) e as oligarquias que se refestelaram de petrodólares , sem reinvestir no país um centavo sequer.
O Jornal Nacional, naquela ocasião, não era econômico em seu entusiasmo: “‘Num pedaço do mundo onde a democracia ainda é uma experiência recente, Hugo Chávez e Fernando de La Rúa frustraram milhões de eleitores em seus países com promessas que não poderiam cumprir. Que sirva de alerta aos brasileiros neste ano de eleição’, recomenda o cientista político Fernando Abrúcio, em São Paulo. ‘É bom lembrar que é preciso colocar a democracia no lugar do salvacionismo. Mas tem que resolver a questão econômica e social, talvez com mais paciência e menos demagogia. O terreno é fértil para um discurso de salvação fácil. Mas é preciso evitar esse discurso, porque a resposta do salvacionismo não leva a uma melhor situação no Brasil, na Argentina ou na Venezuela’”.
Lembremos que Abrúcio (um dos analistas diletos da emissora) alertava contra a candidatura Lula. Um golpe pegava carona no outro. Tudo como manda a democracia da tela, feita para ser vista, jamais para ser vivida.

O bufão

Arnaldo Jabor, definido magistralmente pelo cartunista Jaguar como o “único rebelde a favor que se tem notícia”, compareceria com sua bufonaria habitual: “Eu ia dizer que a América Latina estava se ‘rebananizando’, com o Hugo Chávez no seu delírio fidelista, com a Colômbia misturando guerrilha e pó, abrindo a Amazônia para ações militares americanas e com a Argentina legitimando o preconceito de que latino não consegue se organizar. Os norte-americanos não conseguem nos achar sérios e democratas. É mais fácil nos rotular de incompetentes e ditatoriais. Mas aí, hoje, o Chávez caiu. Só que os militares entregaram o governo a um civil democrata. Talvez a América Latina tenha entendido que a idéia de romper com tudo, do autoritarismo machista, só dá em bananada. Temos que nos defender, sim, da atual arrogância imperial americana. Mas a única maneira será pela democracia radical. Por isso acho boa notícia a queda do Chávez. Acordamos mais fortes hoje e eu já posso ‘desbananizar’ a América Latina. Para termos respeito da América e do mundo temos de ser democráticos. Tendo moral pra dizer não”
Ignoramos o que houve com a banana de Jabor após o retorno de Chávez. Ao contrário do monolitismo do discurso autoritário, são diversos os usos que se pode fazer da fruta.
Quer dizer que os militares haviam entregado o governo a um civil democrata? O empresário Pedro Carmona dissolveu o Congresso, destituiu todos os integrantes da Suprema Corte e ganhou mecanismos para dissolver os poderes constituídos em todos os níveis. Mas a desfaçatez do jornalismo global não tem limites como revela o diálogo entre a então apresentadora Ana Paula Padrão e o jornalista William Waack, no Jornal da Globo, o mesmo que aparece hoje sempre com expressão contrafeita ao comentar qualquer fato envolvendo o atual governo:
“- William, Chávez deu muito trabalho aos Estados Unidos. Bush deve estar comemorando, não?
- Ana Paula, as posições do ex-presidente venezuelano de fato irritaram os americanos. Há insistentes comentários de que Chávez gostava de se meter na política dos países vizinhos. E parece que além de apoio político, nada discreto, Chávez teria dado facilidades militares aos guerrilheiros colombianos das Farc, que escaparam de alguns cercos do exército colombiano fugindo pela fronteira da Venezuela.
- William, para o restante da América Latina, que significado tem a queda de Chávez?
- Ana Paula, o estilo mandão de Chávez prova que a era do populismo não funciona, e olhe que ele tinha um formidável caixa para distribuir, devido ao fato de a Venezuela ser um grande produtor de petróleo. Na verdade, Chávez prova uma lição que o restante da América do Sul aprendeu já há algum tempo: quem trata a democracia como ele tratou, desrespeitando instituições e preferindo mandar com a bota em vez de dialogar, não deve ficar espantado ao ser varrido do poder.”
Em suma, nunca a Globo se mostrou tão venezuelana como naquela noite. Nunca interpretou tão bem seu papel de protagonista da globalização neoliberal na periferia. Poucas vezes foi tão explícita em esmagar a cidadania usando seu poder de mídia. Desde aquele 12 de abril, golpismo deixou de ser um termo genérico. Na TV Globo, como vimos, tem nomes, sobrenomes e profissões conhecidas.
O que nos resta, como democratas, ante a nova ofensiva midiática contra o presidente venezuelano? Juntarmo-nos aos que lutam por uma nova ordem informativa e prestar incondicional solidariedade a Hugo Chávez. Isso é o mínimo.

Condoleezza fracassa na OEA em sua defesa da TV golpista


Contrapondo-se às pressões dos EUA, a OEA adotou projeto da Venezuela que conclama os Estados membros a fomentar democratização da mídia pelo “enfoque pluralista da informação” e pelo estímulo ao “exercício da liberdade de expressão”
A Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou na terça-feira, 5, a proposta venezuelana sobre “O direito à liberdade de pensamento e expressão, e a importância dos meios de comunicação social”, apresentada pelo embaixador no organismo, Jorge Valero.
Contrapondo-se às pressões exercidas pelos Estados Unidos para aprovar uma condenação ao governo de Hugo Chávez, a Assembléia Geral da OEA adotou na Cidade do Panamá, entre os dias 4 e 5 passados, a resolução que convoca os membros da Organização a “promover um enfoque plu-ralista da informação e múltiplos pontos de vista mediante o fomento do pleno exercício da liberdade de expressão e de pensamento”. Assinala também que, para conseguir este objetivo, “é fundamental o acesso aos meios de comunicação pelo conjunto da população; a diversidade de proprietários dos mesmos, assim como às fontes de informação, através de sistemas transparentes de concessão de licenças e regulamentos que impeçam a concentração indevida da propriedade dos meios de comunicação”.
O documento conclama os Estados membros a “adotar medidas para evitar violações ao direito à liberdade de pensamento e expressão, assegurando que a legislação nacional se ajuste às obrigações internacionais em matéria de direitos humanos e se aplique com eficácia”.
ISOLAMENTO
“Os Estados Unidos ficaram sós em sua agressão contra nossa Pátria, contra nosso presidente Hugo Chávez, contra nossa democracia, contra nosso povo. Ficaram absolutamente sós. Os tempos mudaram. Condoleezza Rice abandonou a Assembléia da OEA quando viu que não podia impor o seu critério. Saiu sozinha e derrotada em sua defesa à RCTV”, afirmou o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, referindo-se à participação da representante da Casa Branca na Assembléia.
Após uma réplica que lhe fora concedida, Rice saiu rapidamente do recinto do Centro de Convenções Atlapa, sem escutar a resposta do chanceler venezuelano. Nicolás não só se opôs ao pedido invasivo dos EUA para se meter nos assuntos internos do seu país, como também denunciou a violação da agenda da reunião com a questão da RCTV. O tema original do encontro, em torno do qual existia consenso prévio, era a energia para o desenvolvimento sustentado.
FUGA AO DEBATE
O ministro Maduro lembrou à funcionária de Bush sobre as numerosas invasões dos EUA contra países latino-americanos, e o atropelo cometido contra muitos outros direitos humanos. Quando ficou claro que nenhuma delegação do Continente acompanharia a tentativa de Washington de atacar e condenar a Venezuela pelo seu soberano direito de não renovar a concessão da Rádio Caracas de Televisão, e democratizar seu espaço radioelétrico, Rice saiu abruptamente no transcorrer do debate.
Em seu discurso, na segunda-feira, dia 4, a secretária de Estado pediu que fosse enviada uma delegação da OEA – organismo que antes servia como instrumento de ingerência da política norte-americana – para investigar a decisão do governo Chávez sobre a RCTV, sob o pretexto de que houvera ataque aos direitos humanos.
“Vejam como se liga perfeitamente a estratégia dessa oposição de direita venezuelana, articulada com a Embaixada dos Estados Unidos, com esse pedido à OEA. Eles estavam buscando sangue nas ruas de Caracas todos os dias, para pedir a intervenção internacional. Como não podem com a liderança do presidente Chávez, com a fortaleza de nosso povo, então pedem que venham de fora fazer o trabalho que eles são incapazes de fazer porque não têm a razão, liderança, nem verdade, nem projeto”, assinalou o chanceler Maduro.
GUANTÁNAMO
“Se os EUA pretendem se converter em paladinos dos direitos humanos, que abram os cárceres de Guantánamo, que permitam que a construção do muro na fronteira com o México possa ser supervisada pelo mundo, que se investiguem as centenas de casos de desaparições de homens e mulheres nessa fronteira”, respondeu Nicolás ao elogio de Condoleezza à “liberdade de expressão” que ela considera que é praticada pelas redes de televisão americanas.
“Se lá se pratica toda essa liberdade de imprensa, que permitam uma reportagem feita pela TVes, o novo canal da Venezuela, que inclua entrevistas com todas as pessoas presas lá, em Guantánamo”, sugeriu Nicolás Maduro.
Sobre a saída intempestiva de Condoleezza da sala, ainda agregou que “é o reconhecimento do isolamento em que está o governo dos EUA no hemisfério”. Continuando, Nicolás disse que “fugiu porque se sentem sozinhos. Quando eles não estavam sós, bombardeavam os povos; quando tinham submetidos a seus interesses muitos governos do nosso continente, invadiram a Guatemala e assassinaram mais de cem mil homens e mulheres, isso aconteceu em 1954; invadiram o Panamá em 1990 e assassinaram, só num bairro, 3000 homens e mulheres que estavam dormindo em suas casas; invadiram Granada, Cuba, Nicarágua, República Dominicana, Haiti; punham e tiravam governos; deram um golpe de Estado contra Salvador Allende e instauraram Pinochet. Eles faziam o que lhes dava na telha na América Latina”.
O ministro venezuelano acrescentou que os governos norte-americanos “somente utilizaram a OEA no passado para justificar invasões e destituição de governos legítimos; enfim, para justificar seus abusos na região. Hoje há uma nova situação no Continente. Não somos inferiores a eles e por isso exigimos relações de iguais, de você a você, de respeito à soberania, à igualdade. Vamos seguir avançando. Hoje demos um passo gigantesco que é falar com a verdade ao Império na sua cara, com respeito, com altura. Mas as verdades que falamos não as podem desmentir”.
Concluindo, o ministro afirmou: “temos denunciado um novo plano contra o presidente Chávez, financiado e dirigido pelo governo dos Estados Unidos. Hoje ficou claro perante o mundo quem está por trás desse plano e dizemos a esse governo, em nome da legitimidade da liderança do comandante Chávez, que esse plano também vai ser derrotado, com o povo da Venezuela e a solidariedade dos homens e mulheres deste Continente”.
SUSANA SANTOS